

O podcast “A Beleza das Pequenas Coisas” regressa na próxima sexta-feira, dia 22 de setembro, e a primeira conversa será com a rapper e autora Capicua. Vejam aqui um trailer do que vem aí e conheçam o novo génerico assinado por Márcia


Tornou-se conhecida do grande público por cozinhar nos programas televisivos de Cristina Ferreira, mas Joana Barrios é uma criativa com muitas mais frentes. É atriz do Teatro Praga, escreve sobre moda, apresentou o programa “Armário”, na RTP2, que lhe valeu o Prémio Autores 2020, da SPA, publicou dois livros de culinária, o “Nhom Nhom” e “O da Joana”, e é um dos novos rostos do canal 24 Kitchen, onde partilha alguns dos seus “super poderes” na cozinha. “Quando digo que ‘cozinhar é um super poder’, não é só uma bonita parangona impressa num avental. Podes ser anti-sistema se cozinhares e levares a tua marmita. Eu levo-a para todo o lado.” Joana afirma que está “permanentemente em construção” e que se questiona muito. Às vezes, demais. E garante que tudo o que comunica tem uma intenção ativista. “Para mim, a moda, a alimentação e o teatro vivem todos dentro de uma lógica de ecologia, não só ambiental, mas social e económica.” Apesar dos momentos menos bons do passado, afirma gostar muito da vida, das pessoas, que se encanta com coisas simples e que está a viver alguns dos seus sonhos. “Sou naturalmente muito para ‘arriba’. Nunca para ‘abajo’. Temos de saber aceitar os nossos momentos felizes. E continuo a dizer de forma divertida que quero ganhar um Óscar”


Durante décadas, Joaquim Letria foi figura principal da televisão e do jornalismo português. Começou no extinto “Diário de Lisboa”, passou pela BBC, em Londres, foi repórter internacional da agência "Associated Press", fundou “O Jornal”, o “Tal e Qual”, a revista “Sábado” e, na RTP, foi autor e apresentador de programas de informação e 'talk shows'. Em 75, junto com José Carlos Megre, moderou o mítico debate para as presidenciais entre Mário Soares e Álvaro Cunhal, de onde saiu a célebre frase “olhe que não, doutor, olhe que não!” Sobre esse momento decisivo da democracia, tem uma opinião muito própria. “Soares ganhou porque vendeu às pessoas o que queriam ouvir. Cunhal foi mais verdadeiro. Votei em Cunhal." Voz crítica do jornalismo atual, Letria lamenta também que a ONU ‘sopre para o lado’ enquanto a Faixa de Gaza continua a ser bombardeada por Israel e fala da importância do tempo para se chegar à verdade dos factos. Aos 77 anos, afirma que houve “sempre” quem o quisesse apagar do retrato e avisa: "Não quero reformar-me nunca. Jamais. Com esta idade podemos até ser melhor do que éramos. Sinto-me com mais qualidade."


Boa parte da sua vida conta-se em reportagem nas zonas de crise do mundo inteiro, do Kosovo à Argélia, de Angola à Líbia, entre tantos outros lugares em estado de fogo. “Não ir a destinos de guerra não me deixa em paz. Há lugares onde se decidem coisas importantes para a Humanidade. E sinto necessidade de estar lá, mesmo que sejam momentos desagradáveis.” Em 2011, Paulo Moura recebeu o prémio Gazeta de Imprensa pelo conjunto de reportagens sobre a ‘Primavera Árabe’, mas nos últimos anos tem-se dedicado à escrita de viagens e à literatura. Sempre para refletir sobre o mundo e compreender os outros. “Quero perceber o que há em mim deles. Mesmo os facínoras. Esta é a essência do jornalismo. Mas tentar compreender não significa justificar, nem absolver.” Autor de 10 livros de não-ficção acaba de lançar “Cidades do sol - em busca de utopias nas grandes metrópoles da Àsia”, onde pretende descobrir com que sonham os habitantes do futuro. Esta conversa parte daí para as interrogações do presente


Depois de um ano que nos deitou abaixo, é catártico poder (re)ver o ator Ivo Canelas no monólogo “Todas as Coisas Maravilhosas”, do inglês Duncan Macmillan, que fala sobre saúde mental e a importância de não perdermos a capacidade de nos deslumbrarmos com os outros, a música, a vida. O espetáculo já foi visto por mais de 15 mil espectadores e está em cena até final de maio, no “Estúdio Time Out”, no Mercado da Ribeira, em Lisboa. Nesta entrevista Ivo fala da importância da dúvida e de como ela o desarruma e desconcerta tantas vezes. “Cada vez mais tenho menos certezas absolutas. Percebo mais claramente o ridículo que são essas certezas absolutas." Sobre o sonho do cinema americano, que continua bem vivo em si, afirma: “É uma luta constante. Os 'nãos' continuam a acontecer. Mas continuo a sentir em mim a 'vibe' de que é possível. E é na subida para a montanha que está o prazer, não é o alcançar o pico. Porque se chegarmos ao topo vamos pensar 'ok, então qual vai ser a próxima montanha mais alta? Esta insatisfação é essencial para vivermos”


É uma atriz e criadora cheia de urgência. Diz de si que nasceu atrasada, tanto é o que quer fazer no palco e fora dele. Sara Barros Leitão descreve-se como feminista, ativista, incoerente, revolucionária. E afirma usar o espaço de cena e o papel e a caneta como um bidão de gasolina para atear fogos no pensamento, desfazer em cinzas a desigualdade e preconceito e trazer a lume a história das pessoas esquecidas e invisíveis. “A minha questão sempre foi como uso o meu privilégio para mudar o mundo. O privilégio tem de ser distribuído tal como a riqueza." Aos 30 anos, com um percurso em teatro, cinema e televisão, já foi nomeada para os Prémios Sophia, Prémios Áquila, Globos de Ouro e, em 2020, venceu a 1.ª edição do Prémio Revelação Ageas Teatro Nacional D. Maria II, que reconhece os talentos emergentes do teatro. “Um dos grandes desafios para um jovem artista é sobreviver e lutar contra a precariedade." Sobre as denúncias de assédio no meio audiovisual português, afirma nesta entrevista que conhece essa realidade e que é testemunha do caso tornado público pela atriz Sofia Arruda. “Estas denúncias que vão sendo feitas têm de ser acompanhadas com uma grande discussão pública que está agora a começar"


Há mais de 40 anos que o médico psiquiatra ouve os desabafos e angústias dos casais em crise. E nesta conversa deixa claro que, mais do que a infidelidade, o pior veneno para o casal é a crítica destrutiva e sistemática. Sobre a pandemia, assume que se enganou ‘redondamente’ no início e que não esperava que provocasse tanto impacto na saúde mental. E prevê que a crise económica irá piorar largamente o bem-estar psicológico das pessoas. Sobre si, aos 71 anos revela que continua a saber tirar gozo da vida. “Sou um gajo de prazeres. Não consigo viver sem tempo, sem os pequenos prazeres. E sempre que possível, todos os fins de semana eu e um amigo pilotamos um avião e decidimos aonde vamos tomar café no país. O que mais gosto é descolar, sair do chão e andar pelo ar”


É autor de dois romances aplaudidos pela crítica, “O Meu Irmão” (Prémio LeYa 2014), e “Pão de Açúcar” (Prémio José Saramago 2019) e, em 2019, durante vinte e quatro dias percorreu sozinho Portugal a pé pela mítica Estrada Nacional 2, de Chaves a Faro, onde se cruzou com inúmeras histórias inusitadas, que registou no livro “Leva-me Contigo”. Mas há muito que as viagens são um dos seus maiores prazeres, desde que aos 13 anos viajou de boleia num camião TIR até à Alemanha. A preparar o próximo romance, que deverá sair ainda este ano, assegura que não usará tão cedo a pandemia como pano de fundo para as suas histórias. O que haverá sempre é conflito. “A boa literatura usa sobretudo a quebra, a falha e o conflito. E esse conflito é da natureza humana.” Quanto aos conflitos da atualidade, deixa o recado: “Não me parece que faça qualquer sentido travar uma vacina que nos está a salvar. Um dos atuais venenos são as campanhas de desinformação constantes em relação às vacinas”


Ela é uma das mais relevantes cientistas portuguesas que anda há uma vida a estudar uma vacina para a malária, e no início de 2020 colocou a sua equipa ao serviço do país para ser criado o primeiro kit de diagnóstico português do novo coronavírus. Nessa altura a diretora do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes e Prémio Pessoa 2013 afirmou ao Expresso que o causador desta pandemia “é um vírus relativamente bonzinho". Agora, Maria Manuel Mota refaz a frase que dissera: “Este vírus não é bom ou mauzinho. É um organismo que luta pela sua sobrevivência. Temos de ter muito cuidado até termos imunidade de grupo. Mas a verdade é que isto podia ser muito pior.” A cientista sublinha que esta não foi a primeira vez, nem será a última, que o mundo sofreu uma pandemia. E deixa o aviso neste podcast: “A atual pandemia devia ensinar-nos que só vamos estar a salvo quando todos estiverem a salvo no mundo. O Reino Unido pode estar muito contente por atingir a imunidade de grupo, mas quer viver na sua ilha sozinho? Não. O que está a acontecer no Brasil é perigosíssimo para o mundo inteiro"


Afonso Cruz é um multi premiado autor de mais de 3 dezenas de livros publicados em várias línguas, como "Jesus Cristo Bebia Cerveja" ou “Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas”. Ao estilo renascentista, Afonso é também ilustrador, cineasta de animação, músico da banda “The Soaked Lamb” e produz cerveja. Em abril lança ‘O Vício dos Livros’, que fala sobre o amor e o ódio aos livros e as histórias que surgem a partir daí. O escritor que se mudou há 12 anos de Lisboa para um monte alentejano confessa que a pandemia lhe criou um ‘engarrafamento literário’. O seu próximo romance deverá sair este verão, com um enredo que nos remete para o início dos anos 60 e a construção do muro de Berlim. "Gosto da sensação de ócio quando escrevo. Por vezes sofro um pouco com a escrita. Mas entrego-me a esse sofrimento com prazer."


Foram precisos quase 50 anos de democracia para que a Assembleia da República passasse a ter três mulheres negras com assento parlamentar. Beatriz Gomes Dias, deputada do Bloco de Esquerda, é uma dessas mulheres, responsável pelas áreas do combate ao racismo, defesa dos direitos das pessoas migrantes e da cultura, que voltou agora a ser notícia por ser a candidata escolhida pelo BE à Câmara de Lisboa, tornando-se a primeira mulher negra na corrida a esta autarquia. “É importante a representatividade e que haja mulheres como eu com uma agenda política que defenda todas as comunidades que sofrem opressão e discriminação. Mas é preciso inscrever também no nosso tecido coletivo social que as pessoas negras podem representar o país, podem representar uma cidade, podem representar toda a gente.” E Beatriz que sonha uma nova Lisboa mais verde, inclusiva, com menos carros e habitação mais acessível, deixa um recado nesta conversa em podcast sobre uma realidade que quer mudar: “Quando chegamos de manhã ao Parlamento vemos que a maior parte das pessoas da limpeza são mulheres negras. E percebemos como a estrutura da sociedade está ainda organizada"


Ela já foi corpo, voz e emoção de largas dezenas de mulheres ao longo de mais de 30 anos a representar na televisão, no teatro e no cinema. Nesta conversa a atriz Dalila Carmo, de 46 anos, assume um novo ciclo pessoal e profissional depois da rescisão imprevista com a TVI e refere que o fator idade terá sido uma das razões para a dispensa do canal. Mas a própria vê o momento como uma oportunidade. "Sinto que fiz novelas a mais. A indústria sugou-me um bocadinho." Ainda sobre a saída do canal onde esteve mais de duas décadas acrescenta: “João César Monteiro tinha uma frase em que dizia: ‘Não são vocês que me expulsam, sou eu que me vou embora.’ É o momento para criar as minhas próprias oportunidades.” Dia 22 de abril, a atriz regressa aos palcos com a peça “Noite de Estreia”, no Teatro da Trindade, em Lisboa, uma obra inspirada num dos filmes mais emblemáticos de John Cassavetes, sobre a crise existencial de uma atriz de meia-idade


Se a cantiga é uma arma, eles são uma bazuca. Uma bazuca musical arco-íris disparada sem pedir licença para ocupar um espaço no meio tradicional do fado. E têm a mira apontada contra a homofobia, transfobia, bifobia e todas as formas de discriminação como o racismo e machismo. Eles são o Fado Bicha, Tiago Lila ou Lila Fadista na voz e João Caçador na guitarra elétrica, que há quatro anos assumiram o lado mais ‘queer’ do fado. E passaram a cantar as feridas, desejos e lutas de uma diversidade de pessoas LGBTI+ que até há pouco tempo não apareciam no retrato nem nas canções. Há quem os adore e quem os odeie. Não fazem música para deixar os outros indiferentes. “É bom quando a arte causa desconforto no público e uma ação”, considera João Caçador. “Já houve pessoas a dizer-nos que sentiam que estávamos a fazer justiça poética por elas em palco", afirma Lila. O disco de estreia desta dupla, previsto para 2020, ficou adiado por causa da pandemia, mas entretanto agigantou-se para 18 faixas e já tem nome: “Ocupação”. Ocupem o vosso tempo a ouvi-los


Começou a dar que falar há doze anos com um livro de memórias coloniais porque se incomodou com a narrativa suave do pós-colonialismo. E nele assumiu a relação amor-ódio com o pai. “Aquilo que sou hoje também vem do trabalho escravo e mal pago que o meu pai roubou aos africanos que eram os seus empregados.” Mas em 2016 a escritora Isabela Figueiredo voltou a agitar as águas com o primeiro romance, “A Gorda”, uma bomba literária que nos levou a calçar os sapatos de uma mulher com excesso de peso que um dia decide reduzir o tamanho do estômago. Uma obra de autoficção que afinal tem muito de si, já que Isabela escreveu o livro logo após se submeter à mesma cirurgia, o que a levou a perder mais de 40 quilos. “Esse livro é uma declaração de dor, de perda e solidão”. O próximo romance já está escrito e tem uma abordagem da vida algo ‘punk’ ou, como chega a dizer, ‘é muito vegan’: “É sobre ter o direito a não ser nada, a não ser importante e a viver sem trabalhar”. E sobre os prémios lança a farpa: “Mas porque é que só atribuem o Prémio Camões aos 90 anos? Aos 90 anos já não se pode gastar o ‘guito’ numa viagem”


O virologista e investigador principal do Instituto de Medicina Molecular, Pedro Simas, que foi um dos signatários de uma carta aberta divulgada esta semana a pedir a reabertura urgente das escolas, é da opinião que haverá pouca vantagem em manter o confinamento muito mais tempo. E está convicto de que as escolas até o 6º ano deverão abrir em breve. “Estamos perto de atingir um planalto em que já não vamos conseguir baixar o número de infeções por dia.” No entanto, o cientista também assume que este cenário de melhoria pode virar. “Pelo menos 70% da população portuguesa ainda não tem imunidade ao vírus. O potencial de disseminação é ainda grande. E aí confio no Governo para saber se há risco ou não de descontrolo social.” Ouça esta conversa em podcast, onde o investigador assume como um enorme desgosto pessoal o levou a uma travessia interior que o transformou num homem mais forte e confiante


É uma das mais notáveis editoras portuguesas, responsável pelas publicações do grupo Leya. Foi Maria do Rosário Pedreira que descobriu e publicou autores agora consagrados como José Luís Peixoto, Valter Hugo Mãe, João Tordo ou Nuno Camarneiro. Há mais de vinte anos que se dedica a tirar manuscritos das gavetas, ajudando a dar a conhecer o talento literário nacional. Ou como gosta de dizer anda “à procura de agulhas no palheiro”. Por isso chamam-na de “caça-talentos” e há quem a considere uma espécie de José Mourinho da literatura. Não acredita na morte do livro, mas afirma-se desesperançada com as novas gerações. “Aquilo que mais me aparece são livros que parecem guiões escritos por uma geração influenciada pelas novelas más”. Do seu ponto de vista, as séries de ficção vieram substituir a literatura porque é mais fácil ir atrás de uma coisa que não faz pensar. “O confinamento não aumentou leitores. As pessoas quiseram alienar-se com séries.” Leitora experimentada e poetisa premiada, além de letrista e escritora, assume escrever mais quando está triste e que os poemas já a salvaram da solidão e até de uma grande depressão


Homem de esquerda, o historiador e político Rui Tavares alerta a direita portuguesa sobre o perigos da coligação com o Chega, que viabilizou o novo governo nos Açores. “É preciso marcar a diferença entre quem está e quem não está lealmente na democracia. A direita não pode estar a falar com o líder desse novo partido extremista, nem fazer orelhas moucas às críticas.” Sobre a polémica retirada de confiança política do Livre à sua única deputada eleita, Joacine Katar Moreira, Rui Tavares deixa claro que esse momento “difícil” do partido que ajudou a fundar está ultrapassado. “A diferença entre o Livre e os outros [partidos] é que o Livre não está aqui para varrer nada para debaixo do tapete. No Livre valem mais os seus princípios do que o poder. E é isso que vai fazer com que regresse ao parlamento e faça finalmente a sua trajetória na política portuguesa.” Ainda sobre as presidenciais afirma: “Uma Presidente como a Ana Gomes traria um grau de escrutínio importante a Belém”


O filósofo Eduardo Lourenço, um dos maiores pensadores do nosso tempo, abre o livro da sua vida. Fala do passado, do seu grande amor, o gosto pela música, pelo cinema e comenta o futuro do país, da Europa e do mundo com uma lucidez, rapidez de raciocínio e vigor raros. Lourenço, que foi distinguido o ano passado com o prémio Vasco Graça Moura e é conselheiro de Estado do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa revela ainda um encantamento com Catarina Martins e Mariana Mortágua, “pequenos Fidel Castros”.


Num ano de introspecção o escritor Valter Hugo Mãe mergulhou a fundo nas memórias do passado para escrever o seu livro mais pessoal e intimista, “Contra Mim”, lançado em outubro, onde revisita a infância e adolescência para verificar a que distância está do que se prometeu e sonhou. Uma obra à procura da criança que cedo percebeu que “as palavras eram jóias” a sair da boca das pessoas. Autor de sete romances, de onde se destaca “O Remorso de Baltazar Serapião”, prémio Saramago em 2007, deixa claro que esta última obra só aconteceu pela clausura a que foi obrigado. “Perante este pasmo assustado da pandemia senti-me exposto a um certo espelho. Tive a sensação de estar em dobro. O que significa que a solidão é de facto um espelho diante de nós.” Para o escritor o paraíso são os outros, mas não augura nada de bom para os próximos tempos. “Vamos evoluir num sentido mais consumista, as pessoas estarão mais egoístas. Porque, de repente, sentem necessidade de serem compensadas. Num sentido profundamente infantil. Quando libertas de alguma coisa que acham que não mereceram, tornam-se carentes e mimadas. E já vamos assistindo a isso”


É um dos nomes mais relevantes do teatro, do cinema e da televisão. E regressa dia 26 de novembro aos palcos, no Teatro da Trindade, em Lisboa, para protagonizar Ricardo III, de William Shakespeare. “Este nosso Ricardo III é quase um psicopata sanguinário. Um homem manipulador, feio, torto, que provoca asco. Vão ter uma surpresa ao vê-lo.” Sobre o momento difícil que os artistas e profissionais das artes atravessam, o ator e encenador considera que “nunca antes as fragilidades da Cultura estiveram tão expostas, tão em carne viva”, mas não atribui culpas a Graça Fonseca. “A ministra da Cultura está empenhada, mas provavelmente de mãos atadas a negociar com outros ministérios e a conquistar um espaço que lhe é difícil.” Quanto aos desafios da paternidade, revela que o filho Filipe, agora com 17 anos, é um amigo atento que o ajuda a ser melhor pai e melhor pessoa. “Saiu-me a sorte grande. É absolutamente adorável quando ele olha para mim e diz ‘tem cuidado’ ou ‘se calhar estás a fazer isto demais’. É um ser que me ama, que se preocupa, que está atento. E isso é verdadeiramente transformador e responsabilizador”


Aldina Duarte afirma que não quer viver só para cantar, que gosta de ficar horas a contemplar as nuvens a desaparecer do Tejo. Começou o ano a comover uma multidão na discoteca Lux-Frágil, em Lisboa, quando apresentou o novo disco “Roubados”, onde recria doze clássicos do fado para celebrar os 25 anos na música. Depois a pandemia alterou-lhe os planos, mas não lhe arrancou o ânimo. “Não é durante as crises e tragédias que me vou abaixo. É muito depois, quando estiver tudo estabilizado.” Apesar de fadista, Aldina diz ter mais tendência para viver no futuro. “Estou agora a tentar viver o presente de forma construtiva. Quero sair uma pessoa melhor desta experiência violenta e rara.” De volta aos palcos para quatro concertos, em Lisboa, Castelo Branco, Faro e Vila Real, a artista deixa claro que recusou fazer parte de tributos a Amália porque “não há nada a mexer nesses temas emblemáticos.” Sobre as novas solidões afirma: “Não foi só o vírus que nos isolou. Há muito que as pessoas estavam a televiver numa bolha tecnológica em função do trabalho e do dinheiro”


Era o último representante vivo do surrealismo português. Mário Cesariny foi o homem que mais amou: “Ainda me faz muita falta...”. Artur Manuel Rodrigues do Cruzeiro Seixas faleceu este domingo, a um mês de completar 100 anos, e por isso o Expresso recupera uma entrevista ao podcast "A Beleza das Pequenas Coisas", realizada em fevereiro de 2017. O pintor e poeta afirmava que só vivera metade do que queria e mantinha a curiosidade pelo amanhã. “Viver é uma loucura espantosa. É a maior loucura.” Sobre o passado, lamentava ter sido mais perseguido após a revolução, “enquanto o Partido Comunista esteve no poder”. A ideia de partir não o assustava. “Não estou preocupado para onde vou. Já andei por céus e infernos cá por este lado.”


Há quase 30 anos que a atriz e encenadora Mónica Calle questiona o lugar do seu corpo no palco e procura levar o teatro às zonas marginais da cidade para que elas passem a ser o centro. Começou em 92, no Cais do Sodré, quando era um bairro de má fama, onde fundou a companhia Casa Conveniente. E há seis anos mudou-se para o bairro da Zona J, em Chelas, para criar um diálogo próximo com a comunidade. O ator Bruno Candé, assassinado em Julho por alegadas motivações racistas, fazia parte da sua equipa, era um dos seus. “Recordo o seu talento, a generosidade e gargalhada inconfundível. Uma das melhores pessoas que conheci na vida”. Sobre estes duros tempos afirma: “Através do palco pudemos resistir ao medo. Uma sociedade em que todos temos medo uns dos outros está condenada”


Dois anos depois de “Eliete”, o quinto e mais recente romance de Dulce Maria Cardoso, a escritora fala de como este ‘novo normal’ lhe trocou os planos. Uma conversa que vai do passado ao futuro e a este presente distópico que maltrata especialmente os idosos. “A pandemia mostrou despudoradamente as más condições dos lares, o abandono, a solidão. Quando se perde a empatia pelos outros tornamo-nos impiedosos e a vida torna-se um inferno”. Dulce garante que “Eliete” não vai usar máscara no próximo volume da história, adiado para 2021, e que tudo se esclarecerá quanto à ligação a Salazar. Uma forma que a escritora encontrou para falar dos fascismos. “Estamos muito lentamente a regressar a ideais que já julgava impossíveis. Temos de perceber o sistema imunitário que permite que a ferida aconteça. Há quem diga que o populismo é a ideologia dos que se sentem traídos.” Sobre o mistério da criação na literatura, deixa a pista: “A ficção tem a ver com encontrar a melhor mentira que sirva a verdade”


Durante 12 anos foi o homem da saúde pública, enquanto diretor-geral da Saúde, no cargo que é agora ocupado por Graça Freitas. Quando o país e o mundo passaram a falar da covid-19, Francisco George recorda que ligou à sucessora para criticar a escolha do nome. “A única discordância que tenho com Graça Freitas é que devíamos ter chamado à covid, a doença do coronavírus. Em bom português." Sobre a Direcção-Geral de Saúde também faz um reparo: "A DGS devia ter sido fortalecida com mais meios humanos. Não foi. E isso é crítico." Nesta conversa em podcast, o atual presidente da Cruz Vermelha Portuguesa e médico especializado em virologia e epidemiologia recusa um cenário de colapso do SNS, que considera fazer parte da vida portuguesa, e confessa faltar-lhe coragem para sair da vida pública, mas que o fará em breve. “Há que saber sair de cena.” Sobre a proposta de lei para as máscaras serem obrigatórias na rua afirma: "Sou a favor. É como ser obrigatório o cinto de segurança no carro"


A sua arte é de rua. Mas é também dos melhores museus e galerias do mundo inteiro. Um mês antes da pandemia, Vhils inaugurou “Haze”, a primeira grande exposição individual num museu nos Estados Unidos, onde abordou “a neblina” e o “invisível nas cidades”. E lança agora a exposição “Momentum”, em Paris, onde reflete sobre o momento suspenso que vivemos. “O meu trabalho é uma arma que expõe coisas menos positivas que acontecem pelo mundo fora.” O Expresso esteve com o artista no Centro de Arte Contemporânea de Cincinnati, numa conversa que viajou pelos 20 anos da sua obra e que continuou meses depois para Vhils contar como o confinamento mexeu com a sua vida e a sua arte. O artista deixa um alerta: “Nestes tempos de disrupção e incerteza é importante que se olhe para a saúde mental como prioridade.” Bem vindos à 6ª temporada do podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”


A atriz e encenadora Fernanda Lapa assume que é a teimosia que a faz levantar-se todas as manhãs com a convicção absoluta que nada, nem ninguém, a fará parar de trabalhar. Nem o raio do bicho. E, tal como o poeta José Gomes Ferreira, está cheia de “saudades do futuro.” O futuro que aí vem com a reabertura das portas do seu teatro, “A Escola de Mulheres”, no Clube Estefânia, em Lisboa, que acaba de celebrar 25 anos e que contribuiu para a evolução do papel das mulheres no teatro em Portugal. A vida de Fernanda dava várias peças de teatro, da comédia ao drama, feita de alegrias, conquistas e perdas. “Tenho tido desgostos profundos, mas sou uma privilegiada apesar de tudo.” Mas é sobre o futuro incerto do setor das artes, a desesperança, frustração e falta de dinheiro dos atores e técnicos e as novas “medidas absurdas” impostas para a reabertura das salas de espetáculo, a 1 de Junho, que arranca esta conversa. “Este país não é para artistas, nem para velhos, nem para novos”


Ele é patologista e administrador de uma rede de laboratórios privados que está na linha da frente na realização de testes de diagnóstico e serológicos para a covid-19. Desde março, só nos seus laboratórios foram realizados mais de 87 mil testes, alguns a pedido do SNS. Sobre as acusações de faturar milhões com a pandemia, Germano de Sousa nega o que considera serem "bocas perfeitamente parvas" e diz-se "farto desse tipo de conflitos com a verdade, de origem ideológica". O antigo bastonário da Ordem dos Médicos prevê uma vacina até à próxima primavera e faz um reparo à DGS: "Deveríamos ter começado a usar máscaras mais cedo." E ainda recorda as peripécias passadas com Zeca Afonso, em Coimbra, os momentos difíceis durante a guerra em Angola, como lá teve de fazer o primeiro parto da sua mulher ou as partidas que o amigo e atual Presidente Marcelo Rebelo de Sousa lhe pregava de madrugada, em Cascais. No final, canta-nos um fado à capela. E para que serve um podcast senão para momentos destes? Ouça e subscreva a “A Beleza das Pequenas Coisas"


Ele é uma das maiores referências na escrita para humor em Portugal e um criativo multifacetado: argumentista, dramaturgo, escritor, humorista, músico e realizador. Licenciado em publicidade, Filipe Homem Fonseca começou a dar que falar no final dos anos 90 quando integrou as Produções Fictícias. Têm a sua assinatura programas como ‘Herman Enciclopédia’, ‘Contra-informação’, ‘Major Alvega’ ou, mais recentemente, ‘Os Donos Disto Tudo’ ou ‘A Patrulha da Noite’. O que é natural em Filipe é o desassossego e a vontade de fazer, mesmo em confinamento. Por isso escreveu e realizou com cinco amigos “O Mundo Não Acaba Assim”, a primeira série de ficção portuguesa a ser produzida integralmente a partir das respectivas casas, que acaba de estrear na RTP1. Sobre o papel do humor em tempos de guerra contra um vírus, chega a afirmar: “Rir e fazer comédia numa altura destas é uma forma de resistência e de vida.” Uma conversa para ouvir integralmente neste episódio do podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”


Passaram 26 anos desde que Isabel Jonet entrou como voluntária para o Banco Alimentar contra a Fome e hoje é presidente de uma instituição que angaria alimentos para 2.600 entidades. E se antes desta pandemia os Bancos Alimentares apoiavam 380 mil pessoas, os números dispararam no último mês. Na recém criada Rede de Emergência Alimentar já chegaram 12.060 novos pedidos de ajuda, de famílias ou de grupos, que abrangem cerca de 58 mil pessoas. “Esta onda de crise criou inesperados novos pobres”. São os profissionais das artes, do turismo, dos ginásios, empresários, e demais trabalhadores precários e da economia informal que, de uma forma súbita e imprevista, ficaram sem sustento. É o outro vírus, o da pobreza, que cresce no país e, como prevê Jonet, ‘vai matar’. Uma conversa para ouvir neste episódio do podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”