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Bate-papo com os correspondentes da RFI Brasil pelo mundo para analisar, com uma abordagem mais profunda, os principais assuntos da atualidade.

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Pressões internas em Israel indicam que Netanyahu pode enfrentar maior crise política desde sua posse

A semana promete ser de grande tensão em Israel. Os Estados Unidos continuam a pressionar o país a buscar alternativas para não levar adiante a incursão em Rafah. Além disso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu sofre novas pressões internas por parte dos familiares dos reféns mantidos pelo Hamas, que se uniram às manifestações pedindo novas eleições, e também a partir de uma decisão da Suprema Corte de Israel, que pode provocar a maior crise política do governo desde a sua posse, no final de 2022.  Ao mesmo tempo, um relatório que tem o apoio da ONU https://www.rfi.fr/br/tag/onu/ aponta uma situação de fome iminente na Faixa de Gaza https://www.rfi.fr/br/tag/faixa-de-gaza/. O estudo produzido pelo IPC (sigla em inglês para Classificação da Fase de Segurança Alimentar Integrada) alerta para o risco de fome na Faixa de Gaza até o final de maio de 2024, caso não haja uma cessão imediata dos combates no território https://www.rfi.fr/br/mundo/20240330-segundo-navio-com-ajuda-humanitária-para-faixa-de-gaza-sai-de-chipre. O documento também afirma que a fome é iminente no norte de Gaza, e deve ocorrer a qualquer momento entre meados de março e maio deste ano. O relatório também pede a Israel para fornecer os bens e serviços essenciais à população.  Ainda segundo o IPC, o cenário mais provável é que tanto a região mais ao norte de Gaza quanto a Cidade de Gaza estejam classificadas em estágio de fome, com provas razoáveis, e que 70% da população estejam em situação de catástrofe.  Já ao sul, Deir al-Balah, Khan Yunis e Rafah são classificadas em situação de emergência. No entanto, caso a guerra continue, as três cidades devem enfrentar o risco de fome até o mês de julho deste ano.  POSIÇÃO DE ISRAEL Israel rejeita as acusações. O Cogat, a entidade israelense responsável pelos assuntos civis nos territórios palestinos, respondeu que há erros graves no relatório do IPC, inclusive menção a dados falsos relativos à quantidade de água disponível por habitante. Segundo Israel https://www.rfi.fr/br/tag/israel/, o documento foi produzido a partir de informações fornecidas pelo Hamas https://www.rfi.fr/br/tag/hamas/, o grupo palestino que luta para destruir. “Rejeitamos completamente quaisquer alegações segundo as quais Israel está matando de fome propositadamente a população civil em Gaza”, diz a resposta. A entidade também tem publicado fotos de armazéns repletos de ajuda humanitária, em especial de comida, e acusa a ONU e outras organizações de não distribuí-la https://www.rfi.fr/br/mundo/20240330-segundo-navio-com-ajuda-humanitária-para-faixa-de-gaza-sai-de-chipre. Israel defende que o processo de distribuição é tão importante quanto a permissão que concede para a entrada de alimentos no território palestino.  “Mesmo no auge das hostilidades, numa guerra que nos foi imposta, Israel não determina limites à quantidade de ajuda que pode entrar em Gaza e não limita de forma alguma o acesso a alimentos. Israel também facilita a entrada de produtos complementares como gás de cozinha e óleo diesel para o funcionamento dos centros de socorro, padarias, etc. Além disso, 14 milhões de litros de água são fornecidos por Israel”, completa o texto divulgado pelo Cogat. Leia também“Não há maneira segura de distribuir ajuda" ao norte de Gaza, denuncia jornalista palestino https://www.rfi.fr/br/mundo/20240329-não-há-maneira-segura-de-distribuir-ajuda-ao-norte-de-gaza-denuncia-jornalista-palestino OPERAÇÃO EM RAFAH Em coletiva de imprensa, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu https://www.rfi.fr/br/tag/benjamin-netanyahu/ disse que o exército está pronto para retirar a população civil, distribuir ajuda humanitária e atuar em Rafah. Mas a situação não é exatamente simples.  O processo de retirada dos cerca de 1,5 milhão de palestinos que se encontram na cidade deve levar pelo menos três semanas, segundo as informações obtidas pela .  Há também uma oposição firme por parte dos Estados Unidos https://www.rfi.fr/br/tag/estados-unidos/, que aceitam alguma forma de operação, mas não a incursão total.  De acordo com a TV pública israelense, o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA https://www.rfi.fr/br/tag/eua/ transmitiu oficiais de Israel a posição do país: o general Charles Brown Jr. teria deixado claro que os norte-americanos não irão aceitar a morte de civis em massa em Rafah.  E apresentou uma proposta alternativa: o aumento da segurança na fronteira entre Gaza e Egito de forma a impedir o contrabando de armas ao território palestino, o isolamento da cidade de Rafah, e o lançamento de ataques pontuais por Israel. Os EUA também poderiam estabelecer uma sala de controle conjunta com os israelenses para coordenar operações específicas https://www.rfi.fr/br/américas/20240322-com-netanyahu-irredutível-eua-reorientam-estratégia-americana-sobre-gaza-de-olho-nas-eleições.  Este teria sido o plano apresentado pelos norte-americanos a Yoav Gallant, ministro da Defesa de Israel, que esteve em Washington https://www.rfi.fr/br/tag/washington/ na última semana. Nos próximos dias, uma nova delegação do país deve sair daqui rumo à Casa Branca https://www.rfi.fr/br/tag/casa-branca/ para novas conversas sobre os planos que podem ser colocados em prática em Rafah.  NETANYAHU SEGUE MAIS PRESSIONADO DO QUE NUNCA  Além dos familiares dos reféns sequestrados que agora se juntaram de vez às manifestações que pedem novas eleições e a substituição de Netanyahu, o premiê enfrenta um problema político sério que ameaça a unidade da coalizão de governo.  Isso porque a Suprema Corte https://www.rfi.fr/br/tag/suprema-corte/ decidiu negar o pedido de Benjamin Netanyahu e ele não vai ter mais prazo para redigir a nova Lei de Alistamento militar, que, segundo os juízes israelenses, deve ser redigida de forma solucionar a desigualdade no processo de recrutamento entre judeus laicos e das demais linhas religiosas e judeus ultraortodoxos. Como primeira medida, a Corte ordenou o fim do repasse de recursos financeiros a todas as yeshivót, escolas de estudo da torá (o livro sagrado dos judeus), cujos alunos não se alistem no exército. O fim do repasse se inicia já nesta segunda-feira (1°). Os jovens judeus ultraortodoxos em idade de serviço militar https://www.rfi.fr/br/brasil/20240311-judeus-de-manaus-e-belém-são-vítimas-de-antissemitismo-desde-início-da-guerra-em-gaza-denuncia-jornal-francês também não têm mais qualquer cobertura legal e devem ser recrutados pelo exército. Segundo a lei atual, os judeus ultraortodoxos, cerca de 13,5% da população, estão isentos do serviço militar a partir dos 26 anos. Ou seja, eles permanecem estudando em yeshivót entre os 18 anos – quando deveriam iniciar o serviço militar – até alcançarem a idade de isenção. A coalizão liderada por Netanyahu passa a correr riscos. Das 120 cadeiras do Knesset, o parlamento israelense, o governo se sustenta graças às 64 cadeiras dos partidos que apoiam o primeiro-ministro.  Dois partidos ultraortodoxos estão na coalizão: o Shas, que tem 11 cadeiras, e o Judaísmo https://www.rfi.fr/br/tag/judaísmo/ Unidos da Torá, com sete. Até agora, eles ainda não tomaram qualquer decisão sobre abandonar o governo, mas esta é a maior crise política enfrentada pela coalizão desde a posse, no final de 2022. Se os dois partidos optarem por romper a aliança com Netanyahu como forma de protesto contra a suprema corte, o governo vai perder a maioria mínima exigida de 61 cadeiras no parlamento, abrindo caminho para novas eleições.  https://whatsapp.com/channel/0029VaBNt8qCnA7xuNcuWn1b

8m
Apr 01, 2024
Argentina busca transformar tensão diplomática com Colômbia em bate-boca ideológico entre presidentes

O governo argentino informou não ter recebido nenhuma notificação oficial sobre a expulsão de diplomatas da Colômbia. A chanceler argentina, Diana Mondino, tenta contornar a crise diplomática e afirma que se trata de uma discussão pessoal entre presidentes. O episódio permite que Javier Milei marque uma posição de liderança regional contra a esquerda complacente com os regimes de Venezuela, Cuba e Nicarágua. A ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, procurou minimizar a gravidade e as consequências das acusações do presidente Javier Milei, que, novamente, classificou o seu colega colombiano, Gustavo Petro de “terrorista assassino e comunista” https://www.rfi.fr/br/américas/20240328-colômbia-anuncia-expulsão-de-diplomatas-argentinos-após-milei-chamar-petro-de-assassino. Mondino afirmou que “de nenhuma maneira houve um rompimento das relações diplomáticas entre a Argentina e a Colômbia” e que “o que cada presidente disse é a título pessoal, sem envolver povos nem Estados”. Segundo ela, “não se deve confundir o país com a opinião dos presidentes. Não temos uma questão de Estado, mas de pessoas. As contas (nas redes sociais) são pessoais”, disse a chanceler. Mondino tratou as acusações como uma questão de "gosto pessoal" de cada presidente. “Que um presidente não goste de outro não significa que rompam relações”, disse, reconhecendo que procurava diminuir a tensão. A ministra descartou que Javier Milei https://www.rfi.fr/br/podcasts/linha-direta/20240319-milei-em-100-dias-de-governo-aperto-fiscal-maior-inflação-do-mundo-mas-ainda-com-apoio-popularpeça desculpas e esboçou duas estratégias. Uma é dizer que Javier Milei usou o verbo no pretérito quando chamou Gustavo Petro de “assassino terrorista” e que o próprio Petro reconhece ter sido terrorista. “Javier disse que Petro foi terrorista e, realmente, foi terrorista. Foi reconhecido pelo próprio presidente Petro”, disse. A outra estratégia é recordar que Gustavo Petro iniciou os ataques quando, durante a campanha eleitoral argentina do ano passado, interferiu a favor de outro candidato e comparou Milei com Hitler. “Hoje é feriado. Preciso de tempo. A questão é explicar a totalidade das informações, algo que estamos preparando”, indicou. Milei disse que Gustavo Petro “era” um “assassino terrorista comunista” e, em setembro passado, Petro comparou Mieli com Hitler. "DUELO ENTRE ESPERANÇA E BARBÁRIE" Em agosto, Petro tinha classificado as eleições na Argentina como duelo entre “a esperança e a barbárie”, pondo Milei do lado da barbárie https://www.rfi.fr/br/américas/20240305-argentina-governo-milei-fecha-estatal-de-notícias-télam-por-uma-semana-e-cerca-prédios-da-agência e advertindo que a vitória do ultraliberal representaria a simbólica volta dos ditadores Augusto Pinochet (Chile) e Jorge Videla (Argentina)”. Em novembro, quando Milei ganhou o pleito, Petro considerou “a vitória da extrema-direita na Argentina triste para a América Latina”. A chanceler Diana Mondino surpreendeu ao revelar que ainda não recebeu nenhuma notificação oficial sobre a expulsão de diplomatas argentinos da Colômbia ou sobre o alcance da medida. “A Argentina não recebeu formalmente a comunicação da Colômbia sobre a retirada do seu embaixador nem o pedido para retirar os diplomatas argentinos daquele país”, disse Mondino, dando a entender que trabalha para que a decisão seja revertida. PEDIDO DE DESCULPAS Na noite de quarta-feira (27), o governo da Colômbia tinha ordenado a expulsão de diplomatas da Embaixada argentina em Bogotá (há sete diplomatas nesse posto), mas a comunicação até agora não aconteceu. “O governo da Colômbia ordena a expulsão de diplomatas da Embaixada da Argentina na Colômbia. O alcance dessa decisão será comunicado à Embaixada argentina através dos canais institucionais diplomáticos”, anunciou a chancelaria colombiana. Talvez a demora seja uma estratégia da Colômbia para dar um tempo de reflexão ao presidente Javier Milei, para ver se o argentino pede desculpas. O ministro do Interior da Colômbia, Luis Fernando Velasco, disse que Milei deve explicações. Mas, Milei não deve pedir desculpas por vários motivos: primeiro, porque não é a primeira vez que chama Petro de “assassino terrorista que está afundando a Colômbia”. Já o tinha dito em janeiro, numa anterior entrevista à CNN, levando o governo da Colômbia a chamar de volta o seu embaixador em Buenos Aires. Na ocasião, Milei não se desculpou e o embaixador colombiano até agora não regressou ao posto. Em fevereiro, numa breve entrevista à rede colombiana NTN24, Milei chamou Petro de “praga letal”. Segundo, porque Milei considera que está descrevendo um fato: Gustavo Petro foi um guerrilheiro durante 12 anos, antes de assinar a paz em 1990. O terceiro motivo é geopolític. Milei quer liderar uma postura opositora https://www.rfi.fr/br/podcasts/linha-direta/20240301-em-discurso-no-congresso-argentino-milei-deve-apresentar-metas-do-governo-e-aposta-na-polarização aos governos de esquerda da região, diferenciando-se do ‘kirchnerismo’, um aliado dos regimes de Venezuela, Cuba e Nicarágua. O presidente Gustavo Petro não diminuiu o conflito. Nas últimas horas, acusou Milei de querer destruir a integração dos países da América Latina, disse que o povo argentino sofre e que a pobreza aumenta com a promessa de Milei de repetir o sistema neoliberal. A GOTA D’ÁGUA As classificações de Javier Milei foram feitas à versão em espanhol da rede CNN me uma entrevista que será exibida integralmente no próximo domingo. Dois trechos da entrevista foram exibidos previamente. Em um deles, o presidente argentino aponta contra os regimes autoritários da Venezuela e de Cuba. Logo depois, diz que a Colômbia, com Gustavo Petro vai pelo mesmo caminho e conclui com a seguinte frase: "Não se pode esperar muito de alguém que era um assassino terrorista comunista”. Em outro trecho da entrevista, Milei chama de “ignorante” o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador.“É um elogio. Que um ignorante como López Obrador fale mal de mim, enaltece-me”, rebateu Milei. Em novembro passado, o mexicano também tinha interferido na campanha eleitoral, definindo Milei como “um fascista conservador”. Nesta quinta-feira (28), o presidente do México ironizou e disse que “é mesmo um ignorante porque ainda não conseguiu compreender como os argentinos, sendo tão inteligentes, votaram em Milei”. Porém, enquanto a discussão entre Milei e López Obrador fica no campo do bate-boca ideológico, “o governo da Colômbia decidiu expulsar os diplomatas da Embaixada argentina em Bogotá” por considerar que “as expressões do presidente argentino deterioraram a confiança da Colômbia, além de ofender a dignidade do presidente Petro”. ATRITO COM LULA Milei tem uma personalidade furiosa, mas também sabe onde pisa. No ano passado, o presidente Lula gravou um vídeo no qual, indiretamente, pediu que os argentinos não votassem em Milei ao sugerir que “pensassem um pouco no Mercosul e que votassem no candidato que gostasse da democracia”. Porém, uma coisa é o nível de comércio entre Argentina e Colômbia; outra bem diferente é a dependência do comércio argentino do Brasil, seu principal comprador. Os vínculos de integração entre Brasil e Argentina são os mais fortes de todos. Milei convidou Gustavo Petro para a sua posse em dezembro. Também enviou a chanceler Diana Mondino a Brasília com uma carta pessoal de convite a Lula. Nem Petro nem Lula compareceram. Os dois mandaram os seus chanceleres, mas, Milei considera essa atitude uma desfeita. Antes disso, Javier Milei, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, classificou Lula como “um comunista corrupto” por ter sido preso. O embate contra a esquerda regional também é útil para uma necessária estratégia de política interna. O assunto não só permite a Milei marcar uma liderança contra a esquerda complacente com os regimes de Venezuela, Cuba e Nicarágua, como também lhe concede tempo. “Milei precisa ganhar tempo”, afirma à RFI o analista político e especialista em opinião pública, Jorge Giacobbe. “Milei foi eleito para dar sinais de recuperação da economia, especialmente no combate à inflação. Mas esse processo é lento, enquanto as necessidades populares são velozes. Milei precisa alongar a paciência dos argentinos", diz. "Uma forma é desviar o debate, dando sinais em outros terrenos, enquanto ganha tempo no front interno”, explica Giacobbe, reconhecendo, ao mesmo tempo, que “se a principal virtude de Milei é a sinceridade, o principal defeito é o modo”, afirma.

5m
Mar 29, 2024
Divergências quanto a acordo Mercosul-União Europeia não impedem reaproximação entre Brasil e França

Diplomacia dos dois países tenta relativizar mal-estar após declarações do presidente francês sobre acordo entre Mercosul e União Europeia. Analistas ouvidos pela RFI dizem que o Brasil se encaixa nas pretensões da França, e vice-versa, porque ambos buscam autonomia num mundo polarizado por China e Estados Unidos Novidade seria se Emmanuel Macron https://www.rfi.fr/br/tag/emmanuel-macron/ defendesse o acordo Mercosul-União Europeia que muitos analistas e políticos nos dois países já davam como finado, justamente pela resistência da França. Mas a forma como o líder francês se posicionou, ainda mais depois de todo aquele clima de "paz e amor" entre Macron e o presidente Lula https://www.rfi.fr/br/tag/lula/ nas paisagens amazônicas, acabou provocando um certo mal-estar diplomático na véspera do último dia da comitiva francesa em solo brasileiro. Nessa quarta-feira, para uma plateia de empresários e representantes do governo ávidos por algum sinal de sobrevida do acordo entre os dois blocos, Macron despejou gelo nas expectativas e disse que o tratado é ruim e desatualizado https://www.rfi.fr/br/brasil/20240328-em-encontro-com-empresários-em-sp-macron-diz-que-não-pode-defender-atual-acordo-mercosul-ue e não beneficiaria ninguém. O lado brasileiro se ressente porque vê argumentos protecionistas se travestirem de proteção ambiental nas falas do francês. “Os europeus têm muito interesse em negociar com o Mercosul https://www.rfi.fr/br/tag/mercosul/, mas eles não pretendem ceder em nada, eles querem um acordo de mão única, em que eles ganhem e os outros perdem. Assim fica difícil. Portanto, eu creio que os dois presidentes, Macron e Lula, nem sequer devem conversar oficialmente sobre isso”, afirmou o analista internacional e professor da UERJ, William Gonçalves. Claro que os dois lados vão relativizar o clima e o foco dessa quinta-feira serão as parcerias e convergências, numa mostra clara de que, cada vez mais, a ponte entre os dois países são as relações bilaterais. “Ou seja, as possibilidades de acordo, de entendimento, elas se dão mais no plano das relações bilaterais, no plano das relações comerciais, dos investimentos, nesse acordo que envolve a construção dos submarinos, a transferência de tecnologia. Aí há acordo, aí pode se falar em amizade, mas, em relação ao Mercosul-União Europeia e à política internacional, há muito mais desacordo do que acordo”, ressaltou Gonçalves. GEOPOLÍTICA Ainda que entre os dois líderes haja divergências contundentes em pontos sensíveis, como a guerra na Ucrânia e o acordo Mercosul-União Europeia, há denominadores comuns relevantes entre Lula e Macron, além da defesa do meio ambiente. Um deles é a busca por autonomia, num mundo polarizado pelas potências China e Estados Unidos, o que faz com que o Brasil seja interessante para a França, assim como o país europeu pode fazer diferença nas pretensões brasileiras. “A França busca construir autonomia estratégica em relação aos Estados Unidos. Lula também, no fundo, tende a buscar um espaço de autonomia. Nesse sentido, o Brasil talvez seja um parceiro do sul global mais confiável, haja vista que a Índia está virando cada vez mais uma democracia relativa, para não dizer uma autocracia étnica centrada na população hindu, e a África do Sul está muito mais alinhada aos interesses de China e Rússia, ainda que tenha ali uma postura bastante crítica em relação, por exemplo, ao que vem se passando em Israel contra Gaza”, avaliou à RFI o especialista Vinícius Rodrigues Vieira, professor da FAAP e FGV. “Então nós temos no Brasil o melhor parceiro possível para Macron no sul global, e no norte global Lula também tem, mais do que em Olaf Scholz https://www.rfi.fr/br/tag/olaf-scholz/ (chefe de governo da Alemanha), uma parceria forte com Macron, até mesmo em função das afinidades culturais entre Brasil e França, vínculos históricos, no campo das artes, das ciências, das comunicações”, concluiu Vieira. FAIXA DE GAZA Além de acordos e compromissos de cooperação em várias áreas, resta expectativa também em torno de algum comentário comum sobre os ataques em Gaza, visto a resolução aprovada com apoio da França por um cessar-fogo na região, ainda que seja claro que a postura brasileira em defesa dos palestinos tenha sido mais categórica até aqui. “Em relação à Faixa de Gaza, vale lembrar que a França está entre um dos 14 países que votaram a favor dessa resolução exigindo um cessar-fogo na região. Então esse é um posicionamento que talvez Macron e Lula vão poder tratar também aqui nessa visita”, disse Cairo Junqueira, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e pesquisador do Observatório de Regionalismo (ODR). De todo jeito, na balança das relações internacionais, analistas afirmam que a visita de Macron foi importante para realçar ao mundo a reaproximação entre os dois parceiros. “Essa vinda do Macron simboliza essa reaproximação entre os dois países, considerando um afastamento muito grande, principalmente durante o governo Bolsonaro. Nesse sentido, o Lula faz algo que ele sabe, que é a reaproximação com um parceiro. Eu não diria um parceiro estratégico, porque esse adjetivo implica em outras interpretações, mas coloca a França como um parceiro novamente do Brasil”, destacou Junqueira.

6m
Mar 28, 2024
Parlamento britânico debate projeto de lei pioneiro para reduzir consumo de cigarro entre jovens

O Reino Unido pode se tornar o primeiro país do mundo a eliminar o consumo de tabaco para as gerações nascidas a partir de 2009. Se o pioneiro projeto de lei for aprovado, a idade mínima para venda de cigarro e derivados, como o vape, vai aumentar gradativamente. O Parlamento britânico debate a proibição da venda de tabaco e subprodutos para as gerações mais jovens. A proposta do governo é a partir de 2027 elevar gradativamente a idade mínima para compra de cigarro e vapes. O projeto de lei prevê que os nascidos em 2009, ou seja adolescentes que hoje têm 15 anos, nunca poderão comprar cigarro legalmente porque quando eles chegarem à maioridade, a idade mínima vai subir todo ano de 18 anos, para 19 anos, para 20 anos e assim consecutivamente.  O foco dessa política pública são os mais jovens, já que o vício em cigarro começa na adolescência https://www.rfi.fr/br/podcasts/a-semana-na-imprensa/20211204-indústria-do-cigarro-busca-estratégia-para-contornar-recuo-do-tabagismo-no-mundo, mas não afetará quem hoje tem acesso legal aos produtos. O aumento da idade mínima para compra de tabaco de 16 para 18 anos, em 2007, mesmo ano em que se tornou proibido fumar em bares, restaurantes e locais fechados no Reino Unido, teve um impacto na redução em 30% do consumo.  Apesar de o cigarro estar em declínio no país, 76 mil britânicos morrem por ano em decorrência de doenças associadas ao tabaco e outras 500 mil pessoas são hospitalizadas. O fumantes custam ao governo - entre a queda de produtividade no trabalho, os gastos com saúde pública e os danos ao meio ambiente - o equivalente a mais de R$ 100 bilhões. O governo apresentou um modelo de impacto da futura política baseado na redução de 30% no consumo com aumento da idade mínima. Sob essa lógica, a proporção de pessoas entre 14 e 30 anos que fumam hoje deve cair de 13% para 7.3% até 2030 e para 1.3% em 2040. CHANCES DA LEI ENTRAR EM VIGOR Com apoio do governo e da oposição, a proposta deve passar no Parlamento e enfrentará principalmente a ira de grupos que acreditam que a lei fere o direito individual de escolha. Mas o argumento mais forte é a prevenção de mortes prematuras associadas ao cigarro https://www.rfi.fr/br/mundo/20170110-oms-preve-aumento-de-30-nas-mortes-provocadas-pelo-tabagismo-em-2030.  Há pesquisas que indicam que a maioria dos fumantes se viciou antes de 21 anos, quer parar de fumar e se pudesse voltar no tempo e ter mais informações sobre o tabaco jamais teria dado o primeiro trago. No entanto, para que a lei funcione é preciso que haja fiscalização, multas salgadas para quem infringir a lei e combate ao mercado ilicito, além de recursos para dar suporte a quem quer largar o vício. Outro desafio importante é combater a desigualdade que tem reflexo na saúde pública. Os números de internações de fumantes no Reino Unido é mais dobra nas classes mais pobres. Portanto são eles os mais vulneráveis e devem ser prioridade da nova política de tabaco, acreditam os especialistas em saúde.

4m
Mar 25, 2024
Saiba quais são os trâmites necessários para Daniel Alves poder sair da prisão

Na Espanha, todos os holofotes estão voltados ao Centro Penitenciário Brians 2, de onde pode sair, a qualquer momento, o jogador brasileiro Daniel Alves. Na última quarta-feira (20), a Justiça espanhola decidiu que o atleta, que foi condenado por estupro, teria acesso à liberdade provisória mediante o pagamento de uma fiança milionária. Para sair da prisão nesta sexta-feira (22), Daniel Alves https://www.rfi.fr/br/tag/daniel-alves/ teria que depositar uma fiança de € 1 milhão https://www.rfi.fr/br/europa/20240320-tribunal-espanhol-autoriza-liberdade-provisória-de-daniel-alves-sob-fiança-de-€-1-milhãona conta do tribunal de Barcelona, entre 9h e 14h, no horário local. Ou seja, o prazo diário termina às 10h no horário de Brasília. Houve bastante especulação, inclusive na imprensa espanhola, a respeito de uma possível ajuda da família de Neymar para o pagamento desse montante – o equivalente a cerca de R$ 5,4 milhões –, já que Daniel Alves tem os bens bloqueados por diferentes problemas com a Justiça. No entanto, na tarde de ontem, Neymar da Silva Santos, pai do atacante Neymar, divulgou uma nota desmentindo o rumor. No texto, ele diz que, em um primeiro momento, ajudou Daniel Alves, sem nenhum vínculo com qualquer processo, mas agora, que a Justiça espanhola já decidiu pela condenação, a situação é diferente e não “compete mais” a ele e nem à sua família.  PROCEDIMENTO Para que Daniel Alves https://www.rfi.fr/br/podcasts/linha-direta/20240205-julgamento-de-daniel-alves-começa-em-barcelona-atleta-é-acusado-por-estupro-de-jovem-espanhola saia da prisão, o procedimento seria o seguinte: uma vez que o tribunal confirme que a fiança foi paga, uma ordem de liberdade provisória deve ser enviada ao centro penitenciário onde o jogador está detido para iniciar os procedimentos de preparação para sua liberação. Os trâmites devem ser rápidos, de modo que, em questão de uma hora após o tribunal notificar o pagamento, o jogador poderia sair da prisão com todas as medidas cautelares vinculadas à sua liberação. ALÉM DA FIANÇA O tribunal de Barcelona estabeleceu a liberdade provisória de Alves, condicionada ao pagamento de fiança, acompanhada de uma série de medidas cautelares. São elas: a retirada dos passaportes (brasileiro e espanhol) do jogador, a obrigação de comparecer semanalmente ao tribunal em Barcelona, a proibição de sair da Espanha, bem como a proibição de se comunicar e de se aproximar da vítima a menos de mil metros. A decisão do tribunal para conceder a liberdade provisória não foi unânime. São três os juízes à frente do caso e um deles não esteve de acordo com a saída de Daniel Alves da prisão. Os argumentos da maioria se baseiam, entre outras coisas, no fato de que a condenação foi de quatro anos e meio https://www.rfi.fr/br/europa/20240222-daniel-alves-é-condenado-a-quatro-anos-e-meio-de-prisão-por-estupro-na-espanha, muito inferior às penas pedidas pelo Ministério Público (nove anos) e pela defesa da vítima (12 anos). Além disso, o texto da decisão ressalta que Alves já “cumpriu 14 meses de [uma] prisão preventiva, que poderá ser prorrogada até a metade da pena imposta, período em que dificilmente a sentença chegará a ser definitiva”.  O comunicado diz ainda que a resolução se respalda no fato de que a prisão preventiva não deve cumprir o papel de adiantar os efeitos de uma possível pena que seja estabelecida na decisão final. Além disso, a deliberação se fundamenta no fato de que o risco de fuga diminuiu, ainda que persista – principalmente por conta do vínculo do jogador com o Brasil. Por outro lado, o juiz Luis Belestá Segura, que votou contra a liberdade provisória do jogador, argumentou que o risco de fuga, levado em consideração para manter Daniel Alves preso, não diminuiu com a decisão condenatória em primeira instância, pelo contrário: aumentou. FIANÇA MILIONÁRIA Para estabelecer o valor da fiança, o tribunal levou em consideração a natureza do delito, o status social de Daniel Alves e sua destacada trajetória profissional como jogador de elite. O texto diz que “ainda que suas principais fontes de ingresso atuais tenham desaparecido, é possível supor uma situação de considerável capacidade econômica”. Com relação à repercussão https://www.rfi.fr/br/europa/20240223-caso-dani-alves-feministas-espanholas-comemoram-apesar-de-jogador-ter-escapado-de-condenação-longaacerca dessa decisão da justiça espanhola, Ester García López, a advogada da vítima, anunciou que vai recorrer da decisão que concede liberdade provisória a Daniel Alves por meio do pagamento de uma fiança. López falou também sobre a mensagem que a resolução passa, que segundo ela, seria a de que “há uma justiça para ricos e outra para pessoas com uma capacidade econômica normal”.  Além disso, ela disse também que a vítima tem um sentimento de impunidade e de que todos os esforços feitos não serviram para nada. Ainda assim, a advogada disse que seguirá lutando, como se faz com qualquer outro assunto relacionado à agressão sexual.

5m
Mar 22, 2024
Líderes europeus discutem ajuda financeira e militar à Ucrânia e entrada da Bósnia no bloco

Com a perspectiva de que a guerra na Ucrânia não termine tão cedo, líderes da União Europeia se reúnem nesta quinta e sexta-feira (21 e 22) em Bruxelas para discutir como aumentar e financiar o apoio militar à Ucrânia e o reforço da defesa do próprio bloco. A agenda do encontro também inclui outros destaques como a situação no Oriente Médio e a expansão da UE, com a possível entrada da Bósnia-Herzegovina. Novos protestos dos agricultores são aguardados.   LETÍCIA FONSECA-SOURANDER, Às vésperas do Conselho Europeu, o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell propôs o confisco de € 27 bilhões nos próximos quatro anos dos lucros de ativos russos congelados na Europa que seriam destinados a comprar armas e munições para a Ucrânia https://www.rfi.fr/br/tag/ucrânia/. A ideia não é vender os ativos, mas destinar os rendimentos obtidos com eles a Kiev https://www.rfi.fr/br/tag/kiev/. Segundo a presidente da Comissão Europeia https://www.rfi.fr/br/tag/comissão-europeia/, Ursula von der Leyen https://www.rfi.fr/br/tag/ursula-von-der-leyen/, não poderia haver finalidade melhor para estes fundos do que gastá-los no reforço da defesa da Ucrânia https://www.rfi.fr/br/tag/ucrânia/ e de toda a Europa https://www.rfi.fr/br/tag/europa/. Aliás, enquanto Paris e Berlim https://www.rfi.fr/br/tag/berlim/ rivalizam sobre qual estratégia usar para a Ucrânia, Von der Leyen deve usar a discussão sobre o reforço da defesa para ajudá-la a conseguir um segundo mandato frente ao executivo europeu. A proposta sobre o uso dos rendimentos dos bens congelados russos será apresentada nesta quinta-feira (21) aos dirigentes europeus. A reação de Moscou https://www.rfi.fr/br/tag/moscou/ foi imediata. O porta-voz do Kremlin https://www.rfi.fr/br/tag/kremlin/, Dmitry Peskov, disse que o uso desses recursos representa “uma violação das leis internacionais” e ameaçou as pessoas e governos envolvidos na tomada de tais decisões com longos processos judiciais. Cerca de 200 bilhões de euros em reservas do Banco Central da Rússia https://www.rfi.fr/br/tag/rússia/ estão congelados no Ocidente, sendo grande parte em moeda estrangeira, ouro e títulos do governo. Durante a reunião, o chanceler alemão, Olaf Scholz https://www.rfi.fr/br/tag/olaf-scholz/ deve pedir aos aliados que aumentem o apoio financeiro à Ucrânia. O esforço de Scholz surge após a Alemanha ter aprovado o envio para Kiev https://www.rfi.fr/br/tag/kiev/ de um pacote de € 500 milhões, que inclui o fornecimento de 10 mil munições. Porém, o chanceler alemão tem recusado em fornecer mísseis Taurus à Ucrânia https://www.rfi.fr/br/tag/ucrânia/. Com um alcance de 500 quilômetros, eles poderiam atingir alvos em Moscou https://www.rfi.fr/br/tag/moscou/. UE QUER PAUSA HUMANITÁRIA IMEDIATA EM GAZA O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu https://www.rfi.fr/br/tag/benjamin-netanyahu/, afirmou esta semana que nenhuma pressão internacional impedirá Israel https://www.rfi.fr/br/tag/israel/ de lançar uma ofensiva em Rafah, cidade no sul do território palestino. Em Bruxelas https://www.rfi.fr/br/tag/bruxelas/, os dirigentes europeus devem exigir uma pausa humanitária imediata que conduza a um cessar-fogo sustentável na Faixa de Gaza https://www.rfi.fr/br/tag/faixa-de-gaza/. É esperado que os chefes de Estado e governo do bloco apelem para que Israel não avance com sua operação militar para Rafah, onde quase 1.5 milhão de palestinos estão refugiados. Os líderes europeus devem voltar a pedir um acesso humanitário contínuo, rápido, seguro e sem entraves. Eles também devem reforçar a necessidade de cooperação com os parceiros da região para evitar uma escalada regional. Desde o ataque do Hamas https://www.rfi.fr/br/tag/hamas/ contra Israel https://www.rfi.fr/br/tag/israel/ em outubro do ano passado, a União Europeia https://www.rfi.fr/br/tag/união-europeia/ condenou a brutalidade do ataque do Hamas https://www.rfi.fr/br/tag/hamas/, reconheceu o direito de Israel se defender mas em conformidade com o direito internacional e o direito internacional comunitário e tem manifestado sua profunda preocupação com a deterioração da situação humanitária em Gaza. NEGOCIAÇÕES DE ADESÃO COM A BÓSNIA-HERZEGOVINA Os líderes da União Europeia https://www.rfi.fr/br/tag/união-europeia/ se preparam para abrir as portas da adesão para a Bósnia-Herzegovina https://www.rfi.fr/br/tag/bósnia-herzegovina/, oito anos depois do país ter se candidatado a membro do bloco. As divisões étnicas profundamente enraizadas e os atrasos nas reformas constitucionais, judiciais e eleitorais levaram a um adiamento de vários anos. Na semana passada, a Comissão Europeia https://www.rfi.fr/br/tag/comissão-europeia/ deu finalmente o sinal verde para o início das negociações com Sarajevo https://www.rfi.fr/br/tag/sarajevo/. No entanto, para que as negociações comecem, é preciso que a recomendação do executivo europeu seja aprovada pelos 27 líderes do bloco. Para Bruxelas https://www.rfi.fr/br/tag/bruxelas/, com o retorno da guerra ao continente europeu e o aumento da incerteza geopolítica, manter a integração dos Balcãs Ocidentais é também uma questão de segurança e estabilidade no continente. Além da expansão do bloco, o Conselho Europeu deve discutir a resposta da UE às atuais preocupações do setor agrícola. E enquanto os dirigentes não chegam a um consenso sobre a questão, novos protestos dos agricultores prometem agitar as ruas da capital belga.

6m
Mar 21, 2024
Descoberta de edição de antiga foto da rainha Elizabeth II suscita nova polêmica no Reino Unido

Mais uma foto da realeza britânica, desta vez uma imagem da Rainha Elizabeth II rodeada por netos e bisnetos, foi digitalmente editada. O clique seria de autoria da princesa Kate Middleton, que recentemente foi responsabilizada pela manipulação de uma recente imagem dela com os filhos. As mídias internacionais estão agora revisando todo o material divulgado oficialmente pelo Palácio de Kensington.   A monarquia britânica está no olho do furacão desde que uma foto de Kate Middleton foi retirada de distribuição pelas agências de notícias devido a manipulações. O fato de a princesa de Gales estar longe dos holofotes, recuperando-se de uma cirurgia abdominal desde o ano passado https://www.rfi.fr/br/europa/20240127-rei-charles-iii-continua-internado-após-cirurgia-de-próstata-e-passa-bem, contribuiu para a multiplicação de especulações sobre a saúde dela nos tabloides britânicos. Agora, toda e qualquer imagem oficial da realeza passará pelo escrutínio da imprensa. A foto da rainha Elizabeth II com 10 netos e bisnetos, tirada em 2022 no castelo Balmoral na Escócia, quando ela celebrava seus 97 anos, tem seis manipulações digitais feitas na fonte, segundo a agência de fotografias .  Entre as alterações apontadas, estão falhas no xadrez da saia da monarca e uma mudança de posição do príncipe Louis, que foi digitalmente levado para mais próximo do braço do sofá que aparece no clique. Assim como a , o canal americano de notícias anunciou que está revisando todo material de divulgação distribuído pelo Palácio de Kensington.  ALTERAÇÃO DE FOTOS DA REALEZA É HÁBITO ANTIGO A imagem de monarcas é extremamente controlada pela máquina de relações públicas https://www.rfi.fr/br/brasil/20170905-revista-francesa-e-condenada-pagar-mais-de-100-por-fotos-de-kate-de-topless da realeza britânia desde sempre. A rainha Vitória, a primeira representante da família real a ser fotografada, no fim do século 19, pediu, na época, que sua imagem fosse retocada para eliminar a papada em seu rosto. Antes disso, reis e rainhas eram retratados em pinturas parecendo muito mais altos, jovens e mais bonitos. Imagem é poder. Hoje em dia, com a facilidade das câmeras de celular e a grande quantidade de aplicativos de edição de imagens, além dos célebres filtros popularizados pelas redes sociais, a linha entre realidade e manipulação é cada vez mais tênue e até perigosa. Muito tem se falado sobre os perigos da Inteligência Artificial e da manipulação da verdade com as .  Portanto, as fotos editadas pela monarquia alimentam o debate sobre até que ponto a alteração de uma imagem é aceitável. Como acreditar na autenticidade do que é distribuído por assessores da realeza, de líderes mundiais e celebridades? No caso da realeza britânica, o que está em questão agora é a credibilidade da instituição considerada o alicerce do país. REAPARECIMENTO DA PRINCESA  O Palácio de Kensington espera que esse furor se dissipe quando Kate Middleton voltar a cumprir sua agenda de compromissos oficiais depois da Páscoa. Mas não há como negar que a imagem da monarquia britânica está arranhada por essa série de escândalos. Como defendia a própria rainha Elizabeth II, monarcas têm que ser vistos para que o povo acredite neles. 

4m
Mar 20, 2024
Milei em 100 dias de governo: aperto fiscal, maior inflação do mundo, mas ainda com apoio popular

O presidente argentino completa, nesta terça-feira (19), os primeiros cem dias de um governo marcado pela ausência de leis aprovadas, pelos elevados custos sociais de um forte ajuste fiscal e pela promessa de que, desta vez, o esforço vai valer a pena. Os argentinos resistem à maior inflação do mundo abraçados a uma esperança, mas a pergunta ainda sem resposta no país é até quando dura a tolerância social? Javier Milei chegou à Presidência sem nenhum governador e com apenas 10% dos senadores e 15% dos deputados. Devido a essa hiper minoria parlamentar, não conseguiu ainda aprovar uma única lei, impedindo a consolidação de um plano de estabilização da economia. “Para um programa de mudança de regime, são necessários três elementos: estabilização macroeconômica, reformas estruturais e institucionais e anúncios de alto impacto que marquem um antes e um depois. O governo começou a estabilização pela correção dos preços e pelo ajuste fiscal https://www.rfi.fr/br/tag/ajuste-fiscal/, mas ainda falta dar sustentabilidade antes das reformas que criem condições para o investimento. O que temos é uma mudança de regime incompleta devido à falta de apoio do Congresso”, explica à o economista Luis Secco, diretor da consultora Perspectivas Econômicas. No começo de fevereiro, Javier Milei https://www.rfi.fr/br/tag/javier-milei/ decidiu retirar do debate um pacote de leis que começou com 664 artigos e, depois da resistência opositora, foi reduzido pela metade. O governo pretende agora que esse pacote volte ao debate com 269 artigos. Na semana passada, o Senado https://www.rfi.fr/br/tag/senado/ argentino reprovou um decreto com 366 medidas, deixando o governo sob risco de uma decisão desfavorável na Câmara de Deputados https://www.rfi.fr/br/tag/deputados/. “Se rejeitarem o decreto, vamos dividi-lo em sete outros decretos e começar todo o processo novamente. Não vamos baixar os braços até conseguirmos. Sabemos para onde queremos ir”, adverte o presidente Segundo o próprio Javier Milei https://www.rfi.fr/br/tag/javier-milei/, outras três mil medidas de reformas do Estado e de desregulamentação da economia aguardam na gaveta a chance de serem aprovadas. Até agora, Milei só conseguiu aplicar o aperto fiscal e a liberação de preços. Em outras palavras, por enquanto, só foram conhecidos os custos. As bases para os benefícios em longo prazo dependem do Congresso https://www.rfi.fr/br/tag/congresso/. APOIO POPULAR PRESERVADO Javier Milei foi eleito com 55,7% dos votos, volume de apoio popular que mantém, apesar da severidade do ajuste, do tamanho da recessão e da confrontação com vários atores políticos e sociais. Segundo sondagem da consultora Giacobbe & Asociados, Milei tem uma imagem positiva de 53,6%. “É praticamente a mesma aprovação daqueles que votaram nele. Isso é bom, mas também indica que 46% da população é contra. Isso é praticamente metade da população. É um número alto para um governo que começa”, avalia Giacobbe para a . Esses números chamam a atenção se confrontados com os 71,3% de inflação acumulada - sem reajuste salarial - desde que o político assumiu o cargo em dezembro. Segundo a consultora Empiria, com base nos dados oficiais, a média dos salários em janeiro ficou cerca de 7% abaixo do limiar de pobreza, evidenciando a perda de poder aquisitivo generalizada. SINCERIDADE COMO CREDIBILIDADE São quatro as razões principais para que Javier Milei https://www.rfi.fr/br/tag/javier-milei/ mantenha o seu capital político, mesmo num contexto de desgaste provocado por decisões antipáticas. Ainda quando candidato, Javier Milei sempre disse que faria um forte ajuste na economia. Como símbolo da drástica redução que promoveria no gasto público, adotou uma motosserra como símbolo de campanha. Depois de eleito, continuou a dizer que inflação seria elevada e extremamente dolorosa no primeiro trimestre. Ele fez previsões de que a alta só acabaria depois de dois anos. Outro fator que o beneficia é que Milei trava o seu conflito contra o que ele chama de “casta política”, isto é, uma elite de políticos profissionais, de sindicalistas há décadas no poder e de empresários incrustados no Estado que não querem perder os seus privilégios. Conforme uma sondagem de Giacobbe, 55,9% da população concorda com essa visão usada para justificar a reprovação de leis no Parlamento. https://www.rfi.fr/br/podcasts/linha-direta/20240301-em-discurso-no-congresso-argentino-milei-deve-apresentar-metas-do-governo-e-aposta-na-polarização Longe de tentar conciliar com os legisladores, Milei ataca os opositores e a população lhe dá a razão. Segundo Giacobbe, 45,6% da população concorda quando Milei classifica a Câmara de Deputados https://www.rfi.fr/br/tag/deputados/ como “um ninho de ratos”. Outros 19,3% concordam parcialmente. “Quanto mais duro com a casta, mais próximo da opinião pública que o apoia, mas ainda mais longe daqueles que aprovam as leis das que ele precisa. A dúvida é se o apoio da opinião pública é suficiente para contar com um mínimo de governabilidade para avançar”, questiona o economista Luis Secco. Um terceiro fator é que a maioria dos argentinos também entende que a atual situação econômica é uma herança do governo anterior. Por fim, a quarta razão é que, na oposição, não há um líder capaz de capitalizar as derrotas ou os erros de Milei. Para Jorge Giacobbe, a melhor coisa que Milei fez para preservar a sua credibilidade foi dizer a verdade sobre o grau de dor que viria pela frente com o ajuste. “O político clássico está acostumado a prometer o paraíso sem dor. Milei partiu de outro lugar: começou com a advertência de que ia doer”, compara. A maior crítica a Milei nesses primeiros cem dias de governo é o modo de fazer política, disparando ataques contra todos. O presidente tem uma forma agressiva de lidar com adversários ou críticos. Ele tem brigado com todos aqueles que não pensam como ele: opositores, jornalistas, artistas, governadores, inclusive contra aqueles dos quais depende https://www.rfi.fr/br/américas/20240211-morde-e-assopra-em-busca-de-apoio-milei-tenta-convencer-o-papa-a-visitar-a-argentina. “A lógica de Milei não é conciliação, mas a exposição dos que estão contra as mudanças que uma maioria votou”, aponta Giacobbe. Leia tambémMorde e assopra: em busca de apoio, Milei tenta convencer o papa a visitar a Argentina https://www.rfi.fr/br/américas/20240211-morde-e-assopra-em-busca-de-apoio-milei-tenta-convencer-o-papa-a-visitar-a-argentina TOLERÂNCIA SOCIAL A pergunta que analistas, agentes econômicos e o próprio Milei fazem todos os dias é: por quanto tempo a opinião pública será favorável ao governo sem ver os benefícios do severo ajuste de 6% do Produto Interno Bruto? “A queda da produção supera amplamente a de recessões anteriores e aproxima-se daquela provocada pelo isolamento forçado pela pandemia. Até quando pode durar o apoio da opinião pública se o período de custos que superam os benefícios se estender mais do que o esperado?”, questiona um relatório da Perspectivas Econômicas. Durante a campanha, Javier Milei prometia usar uma “motosserra” e que, desta vez, o ajuste seria pago pela “casta política”. https://www.rfi.fr/br/podcasts/linha-direta/20231209-argentina-aguarda-medidas-de-choque-de-javier-milei-que-assume-presidência-neste-domingo No entanto, até agora, 60% do esforço veio do “liquidificador” que diluiu salários e aposentadorias, algo que Milei não disse nem durante a campanha nem antes de aplicar. O próprio presidente reconhece que o déficit fiscal zero dos últimos dois meses foi graças a diluir salários e aposentadorias. “Conseguimos evitar a hiperinflação, atingimos o déficit zero e estamos saneando o Banco Central. Conseguimos tudo isso, apesar da classe política, devido à velocidade e a magnitude do ajuste, foi motosserra e liquidificador”, admite Milei. Para conter a inflação, o governo tem evitado permitir a recomposição salarial, deflagrando uma onda de greves que todas as semanas paralisa algum setor do país. Nas sondagens, muitos dizem que podem aguentar entre seis meses e um ano. No estudo de Giacobbe, 65,2% estão dispostos a resistir entre seis meses e os quatro anos de mandato. “A pergunta aos entrevistados visa descobrir qual é a fronteira de dor tolerável. A maioria dos entrevistados procura manter a esperança em Milei, mas uma coisa é dizerem que vão aguentar 48 dolorosas sessões; outra, é a realidade de abandonar o tratamento na metade por não suportar a dor”, explica Giacobbe para logo concluir: “Esse é o grande risco para o Governo https://www.rfi.fr/br/tag/governo/ e é o que eu acho que vai acontecer”, prevê. O próprio Milei reconhece que é preciso dar logo resultados para aumentar a disposição das pessoas a resistirem à recessão. Quando fala em dar resultados rápidos ele se refere à baixar drasticamente a inflação. Por enquanto, o presidente só promete que, “desta vez, o esforço vai valer a pena”, mas a tolerância social não vive apenas de esperança. “Esse é o desafio para os próximos cem dias”, conclui Jorge Giacobbe. https://whatsapp.com/channel/0029VaBNt8qCnA7xuNcuWn1b

8m
Mar 19, 2024
Delegação de Israel vai ao Catar para negociar, enquanto crise se instala entre israelenses e americanos

O chefe da inteligência de Israel, o primeiro-ministro do Catar e autoridades egípcias devem se reunir em Doha na segunda-feira (18) para discutir um possível acordo para a crise em Gaza. O Hamas havia respondido às linhas gerais de um entendimento obtido em Paris. Da mesma maneira como tem ocorrido ao longo de todo este tempo, porém, não há garantias de que as partes vão chegar a um acordo.  Uma reunião entre o chefe da Mossad, David Barnea, Mohammed bin Abdelrahman Al-Thani e representantes egípcios “deverá se realizar hoje” na capital do Catar", disse uma fonte a sob condição de anonimato, devido à natureza sensível das discussões. Os países mediadores - Qatar, Estados Unidos e Egito - não conseguiram até agora chegar a um acordo sobre a troca de reféns detidos em Gaza https://www.rfi.fr/br/mundo/20240318-condições-em-gaza-são-piores-do-que-catastróficas-diz-oxfam-ao-acusar-israel-de-bloquear-ajudapor prisioneiros palestinos e a um cessar-fogo no território devastado por mais de cinco meses de guerra entre Israel e Hamas. "Aceitamos que haverá uma retirada parcial da Faixa de Gaza antes de qualquer troca, e após a primeira fase, uma retirada total”, disse um dos líderes do Hamas, Osama Hamdan, nesta segunda-feira. “Durante a primeira fase, haverá uma cessação total das operações militares https://www.rfi.fr/br/mundo/20240318-exército-israelense-ordena-retirada-de-civis-da-região-do-hospital-al-chifa-o-maior-de-gaza(...) e 14 dias depois uma retirada (israelense) para o leste da frente salaheddina”, permitindo o regresso dos deslocados a este setor, disse ele em uma entrevista com al-Manar, o canal do movimento islâmico Hezbollah no Líbano. As discussões, acrescentou, podem levar “alguns dias”. Após a pressão exercida pelos mediadores, o Hamas havia apresentado a seguinte contraproposta:  O grupo palestino exige a libertação de 950 prisioneiros. Em troca, o Hamas estaria disposto a libertar 40 reféns israelenses: mulheres, idosos e doentes. No caso específico das cinco soldadas de Israel sequestradas em Gaza, a exigência é que para cada uma delas, Israel liberte 50 prisioneiros palestinos. Além disso, o Hamas quer escolher os nomes dos prisioneiros a serem soltos. As demais demandas se mantêm: retorno de todos os palestinos deslocados para o sul da Faixa de Gaza e, após as seis semanas de trégua, o estabelecimento de um cessar-fogo permanente. Um membro do alto escalão de Israel envolvido nas negociações disse que “este é um acordo muito ruim e, por isso, ele não vai ser concretizado”. Houve um aumento significativo dos números exigidos pelo Hamas: no mês passado, nas reuniões realizadas em Paris, os chefes dos serviços de Inteligência de Israel, EUA, Egito e o primeiro-ministro do Catar chegaram a linhas gerais que estabeleciam que Israel deveria libertar 400 prisioneiros palestinos, quinze dos quais condenados à prisão perpétua pelo assassinato de israelenses. REAÇÃO DE ISRAEL  As autoridades envolvidas consideram que as diferenças entre as exigências do Hamas e o que Israel pode aceitar ainda são consideráveis. No entanto, a visão em Israel é que a contraproposta do grupo palestino abre espaço para alguma forma de negociação. E essa mudança de postura se deve às pressões internacionais por parte de Egito e do Catar.  No caso específico do Catar, há uma visão pragmática: o país busca se consolidar como um ator responsável e tem se esforçado para encontrar soluções capazes de interromper a guerra. O líder do Hamas no exterior, Ismail Haniyeh, vive em Doha desde 2017, assim como outros membros do grupo. O Catar chegou a ameaçar expulsá-los caso não se mostrassem disponíveis a negociar.  Em Israel há duas visões diferentes entre aqueles envolvidos no processo: de um lado, os que acreditam na ideia de flexibilizar posições de forma a aproximar o Hamas de um acordo; de outro, há quem pense exatamente o oposto por considerar que o Hamas não tem interesse real em chegar a um acordo envolvendo a libertação de reféns. Essas duas posições têm estado em permanente disputa nas conversas internas do gabinete de segurança israelense.  CRISE ENTRE ISRAEL E EUA A pressão norte-americana desde que Israel iniciou a resposta aos ataques de 7 de Outubro é sobre o chamado "dia seguinte". Ou seja, o que Israel pretende fazer na Faixa de Gaza, quem deverá administrar o território e como espera solucionar o conflito com os palestinos de forma mais ampla.  Até agora, depois de mais de cinco meses de guerra, o governo de Benjamin Netanyahu não conseguiu responder a nenhuma dessas questões. A visão da administração de Joe Biden é a mesma de muitos israelenses: de que Netanyahu não toma qualquer decisão porque teme que isso leve alguns dos nomes mais radicais de sua coalizão a deixar o governo - o que possivelmente levaria a um cenário de novas eleições.  Assim, depois de críticas de Washington mais diplomáticas, foi a vez do líder da maioria no Senado dos Estados Unidos, o Democrata Chuck Schumer, fazer um discurso forte. Ele disse que Netanyahu é um "obstáculo para a paz" e pediu para o presidente de Israel, Isaac Herzog, convocar novas eleições.  Chuck Schumer é o judeu norte-americano que ocupa o cargo mais alto no cenário político dos Estados Unidos. Perguntado sobre o pronunciamento do senador, o presidente Joe Biden considerou que ele "fez um bom discurso" e expressou preocupações sérias partilhadas não só por ele, Biden, mas por muitos norte-americanos. Netanyahu respondeu no domingo, primeiro dia da semana de trabalho em Israel, na abertura da reunião com os ministros.  "Aos nossos amigos na comunidade internacional eu digo: sua memória é curta? Vocês se esqueceram tão rapidamente do dia 7 de outubro, o massacre mais terrível cometido contra judeus desde o Holocausto? Vocês estão prontos para negar a Israel o direito de se defender contra os monstros do Hamas? Vocês perderam sua consciência moral tão rapidamente?", questionou o primeiro-ministro em mais um capítulo da crise entre os países aliados. 

6m
Mar 18, 2024
Argentina bate recorde histórico de dengue, mas governo nega vacina gratuita

A intensa chuva desta semana na maior parte do país deve gerar uma proliferação de Aedes aegypti, acelerando a curva de contágios. O aumento de casos de dengue na Argentina é consequência de uma combinação de fatores climáticos com crise econômica que deixa seis de cada dez argentinos na pobreza. Diante da pressão social para que a vacina contra a doença seja distribuída de forma gratuita, o governo argentino, ao contrário da evidência científica, põe em dúvida a efetividade da vacina. Nesta temporada, 95.705 pessoas foram contagiadas, um número suficiente para bater o recorde para o atual período do ano. Comparado com o mesmo período do ano passado, o número de casos aumentou 1.820%. https://www.rfi.fr/br/américas/20240308-argentina-registra-mais-de-57-mil-casos-de-dengue-em-2024-com-47-mortes No entanto, devido aos tempos de processamento dos dados em todo o país, essa quantidade refere-se há duas semanas atrás. Como os contágios aumentam em mais de 15 mil novos contágios por semana, a Argentina já estaria com mais de 130 mil casos de dengue, número registrado em toda a temporada passada, a pior da história do país. Na província de Buenos Aires, onde vivem cerca de 40% da população, o aumento é de 35.000%. Passou de 40 a quase 13.924 infectados. Nestes dois primeiros meses do ano, foram 58 mortes. O mais provável é que março termine com mais de 65 mortes, o número registrado em 2023. EPIDEMIA CONTÍNUA O verão pode chegar ao fim, mas o pior continua por vir. Até a semana passada, a previsão era que a crista da onda de contágios acontecesse ao longo das próximas semanas, até meados de abril. Porém, a curva de contágios deve ser ainda maior depois desta semana. Nos últimos três dias, choveu o dobro do que se esperava para todo o mês de março, um mês chuvoso. Espera-se para a próxima semana uma proliferação de Aedes aegypti, o mosquito da dengue. Em entrevista com a RFI, um dos maiores especialistas da América Latina, Dr. Roberto Debbag, vice-presidente da Sociedade Latino-Americana de Vacinologia, explicou como as mudanças climáticas alteraram o ciclo de contágios. Historicamente, a temperatura cai muito na Argentina a partir de abril e maio. Desde 2023, com o aumento da temperatura global, os invernos têm sido pouco rigorosos e a epidemia tornou-se contínua, sem interrupção no inverno. “Desde o ano passado, não houve interrupção do surto epidêmico. A tropicalização, sobretudo no Norte do país, pode manter a epidemia contínua”, aponta Debbag. Para se ter uma ideia da tendência, na Terra do Fogo, no extremo sul do continente, as temperaturas são baixas mesmo no verão. Neste ano, já foram registrados 386 casos na ilha. IMPACTO SOCIOECONÔMICO O aumento de casos de dengue na Argentina é consequência de uma combinação de fatores climáticos com aumento da pobreza. O efeito El Niño somou-se ao aquecimento da temperatura, enquanto a crise econômica deixou seis em cada dez argentinos pobres. Roberto Debbag indica que a dengue é uma doença que afeta os mais pobres devido à falta de saneamento básico, à proximidade de lixos a céu aberto e a dificuldade de acesso à saúde. “A dengue é uma doença da pobreza porque é mais perigosa nas populações vulneráveis”, conclui. A crise econômica deixou até agora seis de cada dez argentinos pobres. Segundo o Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina, a pobreza estava em 44,7% em setembro, passou a 49,5% em dezembro, pulou para 57,4% em janeiro e já deve estar acima de 60%. A indigência passou de 10% a 15%. “O aumento da pobreza na Argentina foi causado pela elevada inflação combinada com salários estagnados. Foi consequência da forte desvalorização da moeda, ponto de partida da política de choque do novo governo. Como os aumentos generalizados dos preços continuam, podemos estimar que tenha chegado a 60% em fevereiro”, avalia à RFI o pesquisador Eduardo Donza, um dos autores do estudo. NEGACIONISMO E AJUSTE FISCAL Com a onda de contágios, aumentou a pressão social para que a vacina contra a dengue seja distribuída de forma gratuita, como foi a vacina contra a Covid. No entanto, o governo do presidente Javier Milei nega esse pedido e até pôs em dúvida a efetividade da vacina contra a dengue, rejeitando, por isso, incluir o imunizante no calendário de Vacinação da Argentina, decisão que tornaria a vacina gratuita. “A vacina ainda não está validada como estratégia para evitar a propagação. A Organização Mundial da Saúde, inclusive, indicou que não há evidência suficiente sobre a sua efetividade”, disse o porta-voz da Presidência, Manuel Adorni. O especialista Roberto Debbag considera que o governo deveria vacinar nas regiões onde há maior surto de dengue, justamente conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde. “O governo deveria vacinar no Norte do país, onde há um surto epidêmico e onde há maior pobreza. Isso impactaria na redução da mortalidade porque a vacina demonstrou eficácia de 80% na redução da doença e de 90,5% de redução da probabilidade de hospitalização”, afirma Roberto Debbag, entrevistado pela RFI.

6m
Mar 15, 2024
Pesquisa aponta leve recuperação, mas Venezuela ainda sofre com lacunas sociais

A principal Pesquisa de Condições de Vida da Venezuela, a Encovi 2023, foi divulgada nesta quarta-feira (13). Devido à falta de dados oficiais, esta radiografia social é desenvolvida pelo Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais da conceituada Universidade Católica Andrés Bello (UCAB). A análise avaliou critérios básicos da sociedade e evidenciou que “a pobreza multidimensional subiu para 51,9%” no ano passado na Venezuela. Para retratar a situação foram analisados parâmetros de serviços de saúde, alimentação, renda, educação, moradia, proteção social e emprego com 12.683 famílias em todo o território venezuelano em 2023. De acordo com os responsáveis pela Encovi, os professores Anitza Freitez e Luis Pedro España, a situação de vulnerabilidade social se estabilizou em 2023. Dados indicam sinais de redução a partir de 2022, quando a pobreza passou de 65,2% para 50,5%. Entre os anos de 2014 e 2021 o empobrecimento da Venezuela foi mais marcante que nos anos posteriores. A Encovi destacou que 82,8% dos domicílios venezuelanos estão na categoria de pobres por renda, ou seja, quando não há dinheiro suficiente para adquirir a cesta básica. A análise aponta que apenas 4,7 de cada 10 pessoas em situação de pobreza extrema trabalha. Em contrapartida, quase sete de cada dez pessoas do grupo mais rico fazem parte do mercado de trabalho. Os dados multidimensionais da pobreza, de 51,9%, estavam relacionados a condições de moradia, serviços públicos, proteção social, trabalho e educação. A desigualdade se acentua de acordo com as regiões da Venezuela. Cerca de 19,5% dos moradores da região metropolitana de Caracas afirmam que não podem comer mesmo que tenham fome. Mas esse percentual sobe para 65,9% em Maracaibo, no oeste do país. A força de trabalho no setor público passou de 35,8% em 2014 para 20% em 2023. https://www.rfi.fr/br/podcasts/linha-direta/20230921-venezuela-professores-públicos-protestam-contra-salário-de-até-u-15Na Venezuela o Estado ainda é o maior empregador do país. No entanto, o número de autônomos chegou a 48,3% à medida que a mão-de-obra dos setores público e privado encolheu motivada pelos baixos salários. Outro fator que pende na balança social é a disparidade de gênero. A atividade econômica da população masculina chega a 62,7%. No entanto, a taxa feminina é de apenas 37,3%. DESLOCAMENTO EXTERNO E INTERNO Luis Pedro España explicou que a vulnerabilidade social é maior onde os serviços básicos (água, eletricidade, saneamento, saúde e alimentação) são pouco acessíveis. Por isso, de acordo com o analista, “cerca de 2,1 milhões de pessoas se deslocaram internamente entre 2018 e 2023”. Para 2% a mudança foi motivada pela oferta de serviços públicos. Já 80%, por motivos familiares. Entre as cidades favoritas para a mudança interna estão Caracas, Miranda e Carabobo. Caracas e San Cristóbal (no estado Táchira, na fronteira com a Colômbia) “são as cidades com menor vulnerabilidade social, enquanto Maracaibo (região oeste) e Maturín (região leste) são as que têm situações mais vulneráveis”. Tanto Maracaibo como Maturín são estados dependentes da sucateada indústria petroleira do país e tiveram o orçamento público reduzido drasticamente nos últimos anos. Com o agravamento da precariedade na infraestrutura no interior do país, Caracas passou a ser considerada um oásis - onde há maior oferta de combustível, eletricidade e fornecimento de água encanada. Quanto à emigração, a pesquisa aponta que fatores como a xenofobia e as crises econômicas e políticas afetaram o destino daqueles que buscam melhores condições de vida. Por anos o Peru foi um dos principais destinos. Em 2023 o fluxo foi reorientado aos Estados Unidos e também para o Brasil. O perfil do emigrante também mudou. O grupo integrado por pessoas entre 30 e 49 anos ultrapassa o de idades entre 15 e 24 - grupo predominante até 2021. Agora há mais emigrantes com ensino médio (29% para 55% nos homens); e menos com ensino universitário desde 2017 (que passou de 46% para 23% em homens). Em relação à taxa de fecundidade, continua em alta o número de gestantes entre 15 e 25 anos: 45%. Segundo a pesquisa, o segmento mais rico da população tem cerca de 0,9 filho; já o mais pobre tem 3,0 filhos em média. EVASÃO ESCOLAR A situação escolar dos venezuelanos teve uma leve recuperação para níveis pré-pandemia, porém a taxa de crescimento estudantil foi baixa até 2023. Cerca de 60% dos alunos frequentam as aulas com regularidade. Já 40% têm frequência irregular por variados motivos, entre eles a falta de alimentação (10%) e greves de professores (30%). Cerca de 62% dos alunos afirmam ser beneficiários do Programa de Alimentação Escolar (PAE). No entanto, apenas 27% afirmam que estudam todos os dias (contra 44% em 2022). Cada vez é mais restrito o acesso às escolas privadas. Em 2015, cerca de 34% podiam pagar para estudar. Mas em 2023 esse número caiu para apenas 12%. Além disso, há um atraso no nível escolar. “Dentro da população escolarizada há um maior atraso que significa que essa população dentro de sua trajetória estudantil foi acidentada. Eles continuam no sistema educacional. É possível que depois da pandemia voltaram ao sistema educativo, mas tiveram uma trajetória acidentada que significa que eles não estão cursando o grau ou ano que lhes corresponde de acordo com a idade. Eles podem ter 14 anos e estão cursando o grau que deveriam cursar aos 12 anos. Eles têm dois anos de atraso”, explica Anitza Freitez, uma das responsáveis pela Encovi.

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Mar 14, 2024
Câmara dos Representante dos EUA examina projeto de lei que pode proibir TikTok no país

Após ser aprovado por unanimidade por uma comissão parlamentar na semana passada, o projeto de lei que visa regulamentar o aplicativo TikTok deve ser votado nesta quarta-feira (13) na Câmara de Representantes dos EUA.   O texto determina que, para evitar o vazamento de dados, o TikTok https://www.rfi.fr/br/américas/20230323-congresso-americano-começa-a-ouvir-ceo-do-tiktok-que-pode-ser-proibido-nos-eua deverá ser administrado no país por uma companhia americana. O que já foi um esforço liderado por Trump e endossado por outros republicanos em sua agenda anti-China, se transformou em uma demanda bipartidária. O tema ganha ainda mais importância neste ano de eleição presidencial e há expectativa que muitos parlamentares adotem medidas mais duras contra o gigante asiático. Por isso, na semana passada, o projeto de lei para regular o TikTok, que tem cerca de 170milhões de usuários no país, foi aprovado por unanimidade em um comitê bipartidário do Congresso. O texto não menciona diretamente a proibição ao TikTok https://www.rfi.fr/br/mundo/20230317-por-que-muitos-países-estão-proibindo-seus-funcionários-de-usar-tiktok de operar no país, mas sugere que a empresa que gerencia o aplicativo, a chinesa Byte Dance, seja nacional. Isso a obrigaria a vender a filial americana da companhia em um prazo de 180 dias. O projeto de lei também poderia afetar também outros aplicativos gerenciados por empresas de fora do país. Longe de se opor à proposta, o mais novo usuário do TikTok, o presidente Joe Biden, que lançou seu perfil de campanha na rede social há poucas semanas, disse que apoiaria o projeto, caso ele seja aprovado no Senado, o que não é dado como certo. A RESPOSTA DO TIKTOK A empresa diz que não há motivo para preocupação quanto ao vazamento ou a utilização dos dados dos usuários do aplicativo para fins políticos. Para se defender, usa como exemplo, o chamado “Project Texas”,  uma iniciativa criada para armazenar dados de usuários americanos e adaptar as recomendações algorítmicas às suas preferências, implantada por uma empresa norte-americana, a Oracle. Na semana seguinte à aprovação do projeto pela comissão do Congresso, o  TikTok https://www.rfi.fr/br/mundo/20230228-tiktok-assusta-porque-coleta-muitos-dados-pessoais-diz-especialista-sobre-boicote-de-governos-ocidentais passou a informar seus usuários através de uma notificação em tela cheia sobre a legislação, pedindo que eles se comuniquem com os parlamentares para tentar frear sua aprovação.  O CEO da ByteDance, Shou Zi Chew, tentou se reunir com membros do Congresso e chegou a enviar cartas a dois deputados questionando as razões que embasam a norma. Por fim, como justificativa econômica, ByteDance argumenta que proibir o uso do TikTok prejudicaria outras 5 milhões de empresas que dependem da plataforma. Acompanhe as notícias da RFI Brasil no WhatsApp https://whatsapp.com/channel/0029VaBNt8qCnA7xuNcuWn1b LEI PODERIA ESBARRAR NA LIBERDADE DE EXPRESSÃO Apesar de ter recebido o respaldo dos dois partidos na Câmara dos Representantes, o projeto ainda esbarra em algumas questões jurídicas e logísticas, e uma delas é a liberdade de expressão. A Primeira Emenda da Constituição Americana foi o artifício legal usado para bloquear tentativas anteriores de proibir o Tik Tok. Para que isso não se repita agora, segundo especialistas no tema, o governo precisaria provar que não há intenção de restringir a manifestação de um discurso ou conteúdo. Ao aprovar uma lei restritiva a um aplicativo utilizado pelas novas gerações, Joe Biden também poderia perder o engajamento de uma das parcelas da população que mais o ajudou a vencer as eleições de 2020. Além disso, seu futuro adversário em novembro, Donald Trump, voltou atrás em sua opinião sobre o aplicativo, dizendo que os jovens “enlouqueceriam” sem o Tik Tok.

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Mar 13, 2024
Milei prepara pacote de leis "antimáfia" e quer Forças Armadas no combate ao crime organizado

O governo argentino decidiu adiar a participação direta de militares na cidade mais violenta do país, enquanto pressiona o Congresso por endurecer a legislação contra o crime organizado. As gangues de traficantes, até agora rivais entre si, decidiram unir-se contra o governo. Rosario funciona com um virtual toque de recolher baseado no medo. A vitória ou a derrota do governo nessa luta terá impacto direto no capital político do presidente Milei.   Começaram a chegar a Rosario os primeiros contingentes da intervenção federal na terceira maior cidade da Argentina, a mais violenta do país. Na noite de segunda-feira (11), 200 agentes da Polícia Federal, da Guarda Costeira e da Polícia do Exército somaram-se a outros 1.500 agentes dessas forças que já estavam em Rosário. Nesta terça-feira (12), chegam mais 250. Aos poucos, a cidade será patrulhada por esses reforços. No entanto, por enquanto, as Forças Armadas só vão contribuir com a logística: carros blindados, caminhões, helicópteros e equipamentos de comunicação. A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, descartou atribuir aos militares tarefas de patrulha e combate aos criminosos. Isso porque a lei proíbe o uso das Forças Armadas na segurança interna. Mas a ministra espera que isso mude. Vai pedir ao Congresso que o Exército possa agir no combate ao crime organizado. “As Forças Armadas estão com as mãos amarradas. É preciso abrir a possibilidade de agirem”, defendeu Bullrich, em Rosario, ao anunciar as primeiras medidas do Comitê de Crise. Horas antes, o governo tinha emitido uma nota na qual afirmava que “o presidente Javier Milei e a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, conformaram um Comitê de Crise com o objetivo de intervir na cidade de Rosario com as Forças de Segurança Federais, mas também com as Forças Armadas". Porém, na noite de domingo, os altos comandos do Exército e da Marinha (Aeronáutica não participa desta ação) manifestaram ao governo o desconforto de participarem diretamente de uma intervenção contra o tráfico de drogas, quando a Lei de Defesa Nacional e de Segurança Interior proíbe esse tipo de ação. PROPOSTA DE NOVA LEGISLAÇÃO O Executivo abre agora duas frentes de batalha contra o crime organizado: o Congresso e a Justiça. O governo quer mais do que intervir com as Forças Armadas. A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, antecipou que prepara um pacote de leis denominado “antimáfia”, inspirado na legislação dos Estados Unidos e da Itália. Também vai apontar contra lavagem de dinheiro, seguindo o caminho do dinheiro que nutre o crime. Um pacote de leis será enviado ainda nesta semana ao Congresso. Em paralelo, a cúpula do Serviço Penitenciário Federal foi demitida. Se as leis forem aprovadas, qualquer ação criminosa que tentar instalar o terror, amedrontando a população, passará a ser duplamente penalizada. Ou seja: onde hoje cabe a pena de cinco anos, passará a dez. Outra mudança é que a condenação de um integrante de uma gangue será estendida a todos os integrantes da mesma gangue, sem importar o nível do bandido. Essa regra está inspirada na legislação italiana contra a máfia. Também adotada recentemente por Nayib Bukele, em El Salvador. A terceira principal modificação é essa da participação das Forças Armadas. A ministra disse que vai pedir aos juízes medidas excepcionais para criar um modelo diferente de combate ao tráfico de drogas. “NARCOTERRORISMO” O governo quer tratar a situação em Rosario como “narcoterrorismo”. Assim, as penas podem ser adaptadas a essa nova realidade de ataques. A quarta morte de um inocente como mensagem mafiosa às autoridades foi o ponto de inflexão. Durante a semana passada, dois taxistas, um motorista de ônibus e um frentista foram friamente baleados à queima-roupa por assassinos enviados pelo crime organizado. O governo de Santa Fe, província à qual pertence à cidade de Rosario, acredita que os crimes sejam uma represália contra o endurecimento nas condições penitenciárias aos presos de alto risco, dificultando a ação de negócios ilegais comandados da prisão. Os criminosos penduraram uma faixa na qual advertiram que “vão continuar as mortes de quaisquer inocentes como taxistas, motoristas, lixeiros e comerciantes”. O vídeo do assassinato de um frentista chocou o país. O assassino deixou um bilhete no qual esclareceu que “essa guerra não era por território” e que “matariam mais inocentes”. Essa ameaça na qual qualquer cidadão na rua corre risco de vida gerou pânico na população. E o pior: nesses recados, o crime organizado deixou claro que aquelas gangues que sempre se enfrentaram por território tinham-se unido para obrigar o poder público a pactuar algum código de convivência no qual os bandidos não perdiam o negócio em troca de não matar inocentes. CAPITAL POLÍTICO EM JOGO Quem chegar a Rosario agora verá uma cidade com ares de fantasma, como se estivesse no começo da quarentena contra o coronavírus há quatro anos ou como se, depois das cinco da tarde, houvesse um toque de recolher. Na segunda-feira (11), por exemplo, muitas lojas não abriram. As escolas não tiveram aulas porque os pais ficaram com medo de levar os filhos. Os ônibus quase não circularam. Nos hospitais, só funcionam os serviços de plantão e, mesmo assim, médicos e enfermeiras têm muito medo de algum assassino aparecer. Por tempo indeterminado, táxis não circulam à noite, postos de gasolina fecham cedo e os caminhões de lixo não passam. A cidade de 1,5 milhão de habitantes, onde o medo domina, tornou-se a mais violenta da Argentina, disputada por gangues em constantes confrontos. À margem do rio Paraná, Rosario é um importante porto para a droga que escoa de Peru, Bolívia e Paraguai com destino internacional depois de o Paraná desembocar no Rio da Prata. O presidente Javier Milei foi eleito empunhando duas bandeiras principais: corrigir a economia e combater a violência. Sobre corrigir a economia, o principal objetivo é controlar a inflação. E sobre combater a violência, o principal desafio é o tráfico de drogas. A vitória ou o fracasso de Milei no combate ao tráfico de drogas em Rosario terá impacto direto no capital político do presidente, ajudando ou afetando o seu mandato. “Milei vai enfocar a sua gestão em resultados em dois grandes assuntos: inflação e segurança em geral, com o tráfico em particular. Esses dois grandes assuntos levaram Milei à Presidência. Os eleitores pediram um presidente que termine com o delito e com a inflação. E o desempenho nessas duas matérias será especialmente avaliado pela população”, indica o analista político Carlos Fara.

6m
Mar 12, 2024
Oposição de centro-direita vence legislativas de Portugal com promessa de conter imigração

Como antecipou o presidente português Marcelo Rebelo de Sousa durante um discurso em cadeia nacional em 8 de março, último dia de campanha das eleições legislativas antecipadas, “em 2024 fecha-se um ciclo da História de Portugal, e abre-se outro”. Com mais de 99% das urnas apuradas, a Aliança Democrática (AD), de centro-direita, venceu as legislativas com 29,49%, sem obter maioria. Liderada por Luís Montenegro, de 51 anos, a coligação terá 79 deputados dos 230 assentos no Parlamento.    MÁRCIA BECHARA,  De acordo com os números divulgados pelo Ministério do Interior, o Partido Socialista, que em 2022 havia conquistado uma maioria absoluta, ficou em segundo lugar com 28,66% dos votos e 77 assentos. Restavam quatro vagas no Parlamento a serem atribuídas às circunscrições no exterior. O aumento da extrema direita https://www.rfi.fr/br/europa/20240310-resultados-parciais-de-eleições-antecipadas-apontam-para-derrota-da-esquerda-em-portugalno país ocorre enquanto Portugal se prepara para comemorar no próximo mês o 50º aniversário da Revolução dos Cravos, que pôs fim à ditadura fascista e a 13 anos de guerras coloniais. Além das suspeitas de corrupção https://www.rfi.fr/br/europa/20240310-eleições-em-portugal-a-extrema-direita-do-partido-chega-proclama-fim-do-bipartidarismo-no-país que levaram à renúncia de António Costa, Ventura alertou durante a campanha sobre o aumento da imigração no país. A população estrangeira em Portugal duplicou nos últimos cinco anos. Imigração e corrupção também foram temas que dominaram a campanha da extrema direita A taxa de abstenção, de 33,77% seria a mais baixa desde 2005.O  histórico do atual governo socialista tem sido marcado pela inflação, apesar da consolidação das finanças públicas, do crescimento acima da média europeia e do baixo desemprego. Portugal também sofreu com problemas nos serviços de saúde e nas escolas, além de uma grande crise imobiliária. AVANÇO DA EXTREMA DIREITA O partido Chega, de extrema direita e liderado por André Ventura, de 41 anos, registrou um grande avanço, conquistando 18,06% dos eleitores, contra 7,2% nas eleições de janeiro de 2022. A eleição realizada no domingo (10) mandou sinais fortes de mudança ao Parlamento português, com uma já esperada guinada à direita, após oito anos de governo socialista, fragilizado pelas denúncias de corrupção, e o triunfo de um partido de extrema direita. O Chega conseguiu a façanha de quase triplicar o número de cadeiras no Parlamento português, apesar do discurso securitário, populista e discriminatório. A direita obteve uma vitória eleitoral apertada, sem possibilidade de maioria absoluta.Os resultados não permitem que a AD forme uma maioria absoluta de pelo menos 116 deputados, mesmo se fizer uma aliança com um pequeno partido liberal que conquistou oito assentos. O desafio iminente da direita portuguesa é correr contra o relógio e formar um novo governo, a pedido do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que deve acontecer em breve. O problema é que o segundo colocado nessas eleições, o Partido Socialista, de esquerda, já deixou claro que prefere ser oposição e que não formará uma coalizão com a direita. A outra possibilidade, seria uma aliança com o Chega. Embora o partido de extrema direita tenha convocado um acordo com Montenegro, afirmando que Portugal quer que a direita governe, essa opção já teria sido descartada. Luís Montenegro e o PSD afirmaram publicamente durante a campanha para seus eleitores que não se alinhariam com a extrema direita do Chega. É, no mínimo, uma sinuca de bico para a direita, que conta com o apoio de partidos menores, mas não de siglas independentes como a Iniciativa Liberal e o Livre. PRÓXIMAS ETAPAS Se não houver pedidos de recontagens, até o dia 15 de março o presidente Marcelo Rebelo de Sousa pode ouvir os partidos eleitos antes da publicação da ata oficial dos resultados, ou indicar diretamente o primeiro-ministro, o que parece ser sua tendência inicial, a partir dos resultados de domingo. A lei eleitoral de Portugal dá duas semanas para eventuais reclamações, mas o prazo para a entrega das atas de resultados à Assembleia é no dia 25 de março, e oito dias depois, eles devem ser publicados no Diário Oficial. No calendário oficial, os deputados eleitos devem ser empossados no início de abril. A partir daí, um novo presidente do Parlamento deve ser escolhido, o que será um teste decisivo para a formação ou não de novas maiorias. Um novo governo de Portugal só poderá tomar posse após esse processo, mas não existe prazo obrigatório. O programa de governo deve ser votado e aprovado por uma maioria absoluta. Caso contrário, o Executivo é derrubado, e o processo começa do zero.

5m
Mar 11, 2024
Itália tem greve geral no Dia Internacional das Mulheres para reivindicar direitos e criticar política de Meloni

Nesta sexta-feira (8) na Itália ocorre greve geral convocada por diversos sindicatos no Dia Internacional dos Direitos da Mulher. As reivindicações são múltiplas, desde a luta contra a violência e discriminação salarial até contra as políticas do governo de extrema-direita de Giorgia Meloni, a primeira mulher a chefiar um Executivo na Itália. Os sindicatos elencaram os vários motivos da paralisação das atividades neste 8 de março. Segundo eles, a greve é contra todas as formas de violência física, psicológica e moral, contra toda discriminação salarial e profissional, contra todas as guerras e o aumento dos gastos militares e a favor de serviços públicos de qualidade, trabalho estável, aumentos salariais em relação ao custo de vida, saúde e segurança social.  O comunicado também afirma: “É mais importante do que nunca sair às ruas para gritar a dissidência a todas as formas de opressão contra as mulheres e contra as políticas familiares, racistas e nacionalistas deste governo, que alimentam a exploração e a violência. A greve é também uma oportunidade para pedir medidas sérias e urgentes para combater o interminável rastro de sangue dos feminicídios, um fenômeno intolerável para um país que se afirma civilizado” conclui a nota.  RELAÇÃO DE GIORGIA MELONI COM AS MULHERES Giorgia Meloni se define com o lema “mulher, mãe, italiana, patriótica e cristã”, semelhante ao lema da extrema-direita “Deus, pátria e família”. Porém, ela mesma faz questão de ser chamada com o artigo masculino, o Presidente do Conselho de Ministros, em vez de a Presidente do Conselho de Ministros, o primeiro-ministro, em vez de a primeira-ministra, o premiê em vez de a premiê. Nestes 17 meses como chefe de governo, Meloni não trouxe benefícios significativos para as mulheres. Ela prometeu incentivos para as mães, com a esperança de reverter o índice de natalidade da Itália, um dos mais baixos do mundo. Em 2023, o número médio de nascimentos por mulher é estimado em 1,25. Mas as promessas não foram cumpridas.  As creches públicas diminuíram em vez de aumentarem. Na Itália, para cada cem crianças, apenas 27 conseguem vagas em creches públicas. Meloni prometeu também aulas gratuitas para o segundo filho, porém um quarto das mulheres italianas nem sequer tem o primeiro filho. O governo aprovou o bônus para mães, mas apenas para trabalhadoras com contrato permanente e com, pelo menos, dois filhos. Portanto, poucas mulheres podem usufruir. Além disso, seu governo anunciou cortes https://www.rfi.fr/br/europa/20230801-fim-da-renda-mínima-para-todos-governo-italiano-reforma-programa-de-ajuda-para-os-mais-pobres nos impostos (IVA) sobre produtos para a primeira infância e cuidados femininos, mas acabou mantendo os tributos. MEDIDAS PARA PREVENIR A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES  Os fundos destinados à prevenção da violência contra as mulheres diminuíram 70%. Eram 17 milhões de euros no governo anterior chefiado por Mario Draghi, agora são 5 milhões de euros. O governo de Giorgia Meloni endureceu as penas para os culpados de cometer violência contra mulheres, mas isso significa punir depois, esquecendo de prevenir, ou seja, educar primeiro. Segundo o Departamento de Segurança Pública da Itália, 120 mulheres foram assassinadas no país durante o ano de 2023. Portanto, a cada três dias morre uma mulher vítima de feminicídio na Itália. A maioria delas foi morta pelo companheiro ou ex-companheiro. DISCRIMINAÇÃO SALARIAL ENTRE HOMENS E MULHERES NA ITÁLIA  De acordo com o Relatório Global sobre Desigualdades de Gênero de 2023, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, na Itália, a diferença salarial entre homens e mulheres no sistema privado é de quase 8 mil euros por ano, o equivalente a cerca de 43 mil reais. Os cálculos foram feitos com informações do último Observatório do Instituto Nacional de Previdência Social sobre os trabalhadores do setor privado. O salário médio anual para o gênero masculino é de 26.227 euros e para o gênero feminino a 18.305 euros.

5m
Mar 08, 2024
Organização do trabalho no Brasil dificulta ascensão profissional da mulher, apontam especialistas

O governo brasileiro está exigindo de empresas com mais de cem funcionários dados salariais de homens e mulheres. O prazo para envio do primeiro relatório vence amanhã, dia internacional da mulher. Especialistas ouvidas pela RFI destacam a necessidade de alterar a organização do trabalho que inviabiliza a subida da mulher na carreira e de deixar claro que essa luta não é algo individual delas, mas de toda sociedade. O esforço é para que a equidade salarial de mulheres e homens, prevista na Constituição e na CLT, saia do discurso e vire política prática. A divulgação periódica de dados salariais pelas empresas com vistas à transparência e a possibilidade de verificação por parte dos interessados é uma das frentes adotadas pelo governo. “Antes de se estabelecer uma punição ou um incentivo, para que a iniciativa não perca força, é importante fazer uma avaliação. Nós sabemos de modo geral, por pesquisas como a PNAD contínua, que há diferenças, mas a gente não sabe efetivamente qual é o tamanho dessa disparidade, como isso se dá dentro das organizações”, afirmou à RFI Carla Antloga, pesquisadora em Trabalho Feminino e professora da Universidade de Brasília. Para ela, a atual dinâmica do trabalho é o principal gargalo hoje da ascensão feminina. “Vou dar um pequeno exemplo. Muitas vezes as reuniões nas empresas atravessam o final da tarde. E as mães são as principais responsáveis por buscar as crianças na escola. Às vezes até vale a pena financeiramente um cargo superior, mas ela acaba não aceitando. E para as mulheres é sempre pior. Porque, quando são os homens que cuidam, eles dispõem de uma rede de suporte, da mãe, das irmãs, da esposa, que é diferente da rede de suporte que a mulher dispõe.” A pesquisadora também critica a atual jornada de trabalho no Brasil, de 44 horas semanais, que implica numa ausência de casa por longo período. “É preciso mudar o desenho do trabalho. Essa jornada de 8 horas diárias em que a gente sai muito cedo de casa, chega muito tarde em casa e, às vezes, ainda continua trabalhando quando chega, é inviável se você tem que cuidar. E cuidar não só dos filhos, mas de uma casa, de uma vida, cuidar de si”, reflete Carla Antloga. SEM PERSPECTIVA “A gente devia ter mais uma oportunidade de ganhar mais, de subir mais. Essa oportunidade nós não temos. Nunca tivemos. Acho que a maioria das mulheres não tem oportunidade”, lamentou Neusa Viana à RFI. Copeira de uma empresa que presta serviços terceirizados ao governo federal em Brasília, ela está há doze anos na companhia, é descrita como dedicada e querida pelos servidores, mas sempre ganhou o piso. Isso ilustra outra constatação de fontes ouvidas pela reportagem, de que alguns espaços, onde há forte presença feminina, a elevação salarial é quase impossível. “Essa divisão sexual do trabalho relegou espaços, profissões e ocupações com menor prestígio social, com menor potencial de ascensão, de status e de prestígio às mulheres. Os espaços de decisão, os espaços de poder, eles são ocupados por homens”, disse à RFI a professora Hayeska Costa Barroso, do Departamento de Serviço Social da Un A especialista destaca que mudar essa realidade é um desafio coletivo, da sociedade e não pode ser atribuído de forma individual às mulheres, justamente para não replicar a cultura machista na hora de buscar soluções para combatê-la. “É muito importante que a gente chame a atenção para o fato de que romper com esses entraves, quebrar esse telhado de vidro, pensar em como superar tal cenário, isso não é um processo individual. Porque, do contrário, a gente reproduz a dinâmica dessa estrutura patriarcal, colocando na mulher a responsabilidade de romper ou de superar dimensões da vida que não foram criadas por ela”, ressaltou Barroso. MISOGINIA NOS TRIBUNAIS Outra frente de atuação do poder público para assegurar tratamento digno às mulheres vem de órgãos do judiciário diante da constatação de que agentes do direito ainda replicam comportamentos discriminatórios e misóginos, especialmente no julgamento de casos que envolvem violência sexual contra mulheres. Levantar questões sobre a roupa que a mulher estava usando, se ela gosta de sair, se ela gosta de beber, são exemplos de como a vítima que buscou a justiça pode virar ré, apesar da lei Mariana Ferrer, que surgiu justamente de um caso de constrangimento da mulher perante um juiz, um advogado e um promotor de justiça. O Supremo Tribunal Federal marcou para esta quinta-feira o julgamento de um pedido da Procuradoria-Geral da República para que a corte deixe claro que não se pode considerar a vida pregressa da mulher nem no julgamento, nem na hora de fixar a pena, quando tais informações não têm ligação direta com o caso em análise. “Porque essa é uma abordagem que desvia o foco do crime que foi cometido, um crime vil, numa situação que revitimiza as pessoas e que infelizmente ainda encontra espaço no nosso sistema de justiça, como é possível observar em casos identificados inclusive pelo Ministério das Mulheres”, afirmou à RFI a advogada da União Maria Helena Pedrosa. “O poder Judiciário não é linear e a cultura machista que existe dentro do nosso país também permeia as diversas instituições, inclusive o Poder Judiciário e os outros atores do sistema de justiça. Mas, embora seja muito triste que a gente ainda precise falar sobre isso em 2024, por outro lado, isso também é uma esperança de mudança”, destacou a advogada pública.

5m
Mar 07, 2024
“Caso Koldo”: Espanha investiga corrupção na compra de máscaras no auge da pandemia

A justiça espanhola está investigando um suposto esquema de corrupção envolvendo a compra de máscaras durante a pandemia. Os desdobramentos do escândalo têm provocado turbulências no cenário político espanhol. O “caso Koldo” é um suposto esquema de corrupção em que teriam sido feitas cobranças ilegais na compra de máscaras de proteção durante a pandemia de Covid-19. As investigações acerca do tema tiveram início a partir de uma denúncia feita por um porta-voz do Partido Popular (PP), opositor do governo socialista, em março de 2022. Os fatos investigados teriam ocorrido em 2020, no auge da pandemia. A denúncia menciona contratos que, segundo o Ministério Público, poderiam representar uma quantia superior a 50 milhões de euros (R$ 269,6 milhões). Os acordos teriam sido fechados com a empresa . Por outro lado, como contratantes, figuram entidades dependentes dos Ministérios de Transportes e do Interior e os governos das Ilhas Baleares e Canárias. As possíveis irregularidades relacionadas às contratações vão desde a cobrança de comissões por concessão de contrato até o fornecimento de material sanitário diferente do acordado. Mais concretamente, a justiça espanhola está apurando os delitos de organização criminosa, lavagem de dinheiro, suborno e tráfico de influências. A trama ficou conhecida como “caso Koldo” porque teria sido articulada principalmente por Koldo García, que foi assessor do ex-ministro de Transportes do país, José Luis Ábalos. O PAPEL DE KOLDO GARCÍA De acordo com as investigações, Koldo García, à época homem de confiança do então ministro de Transportes, seria responsável por intermediar as negociações para compra de máscaras de proteção. Segundo o Ministério Público, o então assessor fazia essa ponte cobrando comissões e abusando do cargo público que ocupava. Uma das questões que chamaram a atenção do MP espanhol foi o aumento do patrimônio de Koldo e de sua família. A valorização teria sido de cerca de 1,5 milhão de euros (R$ 8 milhões) entre 2020 e 2022. Além da possível cobrança ilegal de comissões e da suspeita de tráfico de influência, uma grande parte das máscaras compradas da empresa investigada não condizia com as máscaras que figuravam nos contratos e, por isso, os itens não serviam para o uso hospitalar. Por ser suspeito de articular todo esse esquema de corrupção, Koldo García chegou a ser detido no último dia 21, junto a outras 19 pessoas que podem estar envolvidas na trama. Além do ex-assessor político, estão sendo investigados, por exemplo, familiares dele e empresários que estavam por trás do fornecimento de máscaras. REPERCUSSÃO NO PARLAMENTO Além de quem está sendo investigado diretamente, vários outros nomes importantes da política espanhola têm sido afetados pelos desdobramentos relacionados ao caso. Entre os mais relevantes da lista, está o da socialista Francina Armengol, presidenta do Congresso de Deputados da Espanha. Armengol é a terceira pessoa com mais autoridade na hierarquia do Estado espanhol – ficando atrás apenas do Rei, Felipe VI, e do chefe de Governo, Pedro Sánchez – e tem lidado com uma forte pressão política ao longo destes dias, já que governava as Ilhas Baleares quando a compra de máscaras aconteceu. O porta-voz do Partido Popular chegou a oficializar um pedido de demissão da líder socialista na última segunda-feira (4), alegando que ela foi uma “colaboradora necessária” para o funcionamento do suposto esquema. Na terça-feira (5), a presidenta do Congresso dos Deputados compareceu a uma coletiva de imprensa dizendo que não está sendo investigada e que, em todo caso, seria "uma vítima" e não "uma cúmplice" da trama que está sendo investigada. José Luis Ábalos, que era ministro de Transportes de Pedro Sánchez na época em que foi feita a compra de máscaras e que hoje é deputado, também está sofrendo as consequências do escândalo. Os líderes do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) pediram que ele deixasse o cargo de deputado por “responsabilidade política”, já que mantinha uma relação estreita com o principal investigado. Defendendo sua inocência, Ábalos não deixou o posto de deputado, mas foi suspenso do partido e se une ao chamado grupo misto na câmara baixa. Nesta terça-feira, o Congresso dos Deputados acatou o pedido do próprio PSOE de criação de uma comissão para investigar a contratação de material sanitário pandêmico pelas administrações públicas, começando pelo “caso Koldo”.

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Mar 06, 2024
Prévias americanas: 16 estados vão às urnas nesta terça para decidir quem concorrerá à Casa Branca

Um dia decisivo nas eleições americanas, principalmente para o Partido Republicano, já que nesta terça-feira (5) se decide quem receberá o apoio de mais de um terço de todos os delegados do partido nas eleições presidenciais. Quinze estados, além da Samoa Americana, votam hoje pelos nomes que querem ver nas cédulas em novembro. No lado Republicano, eleitores decidem entre Donald Trump, que recebeu ontem o sinal verde da Corte Suprema para ser candidato, e Nikki Haley. Para garantir a nomeação, do lado republicano, são necessários os votos de 1.215 delegados, ou metade do total de 2.429 que nomearão o candidato presidencial do Partido Republicano, na convenção de julho. Trump tem atualmente 247, https://www.rfi.fr/br/américas/20240302-eua-trump-vence-primárias-republicanas-em-missouri-e-michigan-e-consolida-liderança-na-corrida-pela-casa-branca Nikki Haley 24. Estão em jogo nesta terça-feira, os votos de 874 delegados. O suficiente para oferecer ao magnata uma vantagem quase intransponível. Sua equipe de campanha prevê que ele conquistará 773 delegados na superterça e será matematicamente imbatível. Já os democratas votam a confirmação da candidatura de Joe Biden à reeleição, embora seu único concorrente, o deputado democrata Dean Phillips, de Minnesota, siga figurando nas cédulas. O Partido Democrata tem 3.934 delegados em jogo, mas o princípio é o mesmo. Joe Biden deverá atingir 1968. Ele já conquistou 206 delegados. SUPERTERÇA A rodada deste 5 de março das eleições prévias americanas é conhecida como superterça, porque é o dia em que a maioria dos estados vão às urnas ao mesmo tempo. Esta superterça, particularmente, reúne 15 disputas para os Republicanos e 16 disputas para os Democratas. Votam hoje os estados do Alabama, Alasca, Arkansas, Califórnia, Colorado, Maine, Massachusetts, Minnesota, Carolina do Norte, Oklahoma, Tennessee, Texas, Utah, Vermont e Virgínia. Além disso, hoje se realizam os caucus democratas no território da Samoa Americana e deve ser divulgado o resultado da votação das assembléias do  partido em Iowa. FIM DA LINHA PARA NICK HALLEY Esta poderia ser a última oportunidade da ex-governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, em sua fracassada, mas persistente tentativa de desafiar Donald Trump pela nomeação Republicana. Ela conseguiu vencer as prévias apenas em Washington D.C. Para o desafio desta terça, a Campanha de Halley investiu pesado em propaganda e fez com que a candidata cruzasse os Estados Unidos para tentar convencer o eleitor de que ela é uma melhor opção do que o ex-presidente. Já Trump vem de duas vitórias arrasadoras, uma no estado natal de Haley, a Carolina do Sul, onde conquistou 60% dos votos, e outra em Michigan, onde obteve cerca de 70% dos votos. Além disso, a super votação acontece um dia após a decisão da Corte Suprema de que Trump tem legitimidade https://www.rfi.fr/br/américas/20240304-suprema-corte-dos-eua-anula-decisão-do-colorado-que-declarava-trump-inelegível-na-véspera-da-superterça para seguir com sua campanha presidencial, desqualificando o pedido do Colorado para retirá-lo das cédulas por sua participação na invasão ao Capitólio. Como a votação acontece em seis diferentes fusos horários, a contagem dos votos poderá levar horas e até  dias. CHANCE DE NOVOS PROTESTOS CONTRA BIDEN Apesar do nome de Joe Biden como candidato pelo partido Democrata não estar necessariamente em dúvida, o  voto-protesto do qual o atual presidente foi vítima em Michigan deixou o partido em alerta.  Ainda tendo vencido facilmente as primárias no estado, mais de 100 mil  eleitores democratas preferiram a opção “descomprometido” nas cédulas, reunindo votos suficientes para  conquistar dois delegados em Michigan, os únicos que Biden perdeu até agora. O objetivo era protestar contra a postura que o governo americano vem tomando no conflito em Gaza, onde o número de mortos ultrapassou 30 mil pessoas. Michigan tem a maior porcentagem de árabes americanos, sendo cerca de 2,1% da população, de acordo com a . Não está descartado que mais votos-protesto sejam emitidos nesta Superterça, especialmente na Califórnia e em Massachussets, onde há um contingente considerável de árabes.

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Mar 05, 2024
Em discurso no Congresso argentino, Milei deve apresentar metas do governo e aposta na polarização

Num cenário político inspirado no estilo dos presidentes norte-americanos, Javier Milei vai discursar no Parlamento, que classificou dias atrás como “um ninho de ratos”, para pedir que os legisladores façam parte da mudança e não da “casta” política. O presidente argentino vai revelar o estado da administração herdada do ex-presidente Alberto Fernández, indiciado pela Justiça. Os opositores preparam-se para reagir e nas ruas são esperados panelaços. Na noite desta sexta-feira (1), o presidente Javier Milei https://www.rfi.fr/br/américas/20240225-milei-declara-pessoalmente-apoio-à-candidatura-de-trump-e-arrisca-a-sua-relação-atual-com-biden vai abrir as sessões legislativas de 2024 do Congresso argentino. Em seu discurso, ele deverá antecipar os principais eixos do seu plano de governo e indicar o que pretende para o primeiro ano do seu mandato. “Mas Milei é uma caixa de surpresas. Costuma romper com o previsto no manual. A perspectiva é que a sua mensagem marque um caminho. A grande expectativa é com esse roteiro”, aponta o cientista político Cristian Buttié, diretor da consultora CB Opinião Pública. O presidente argentino mantém o costume de copiar a estética das Presidências dos Estados Unidos. Desta vez, inspira-se no modelo norte-americano do discurso anual do Estado da União que os presidentes dão no Congresso. Na Argentina, a abertura das sessões tradicionalmente acontece ao meio-dia, mas desta vez será às 21 horas. O argumento oficial é o de ocupar o horário nobre das transmissões de TV para que mais argentinos possam assistir ao discurso do presidente. Outra mudança é que Milei não vai ficar sentado na bancada ao lado do presidente da Câmara de Deputados. Vai ficar em pé atrás de um atril, enquanto os legisladores vão permanecer sentados. Parece uma mudança de menor importância, mas na simbologia de Milei https://www.rfi.fr/br/podcasts/reportagem/20240203-aprovação-de-pacote-de-medidas-de-milei-na-argentina-preocupa-comunidade-brasileira-no-país, o presidente aparece numa posição de superioridade diante dos parlamentares. Para o presidente argentino, romper protocolos e mostrar que as coisas agora são feitas de outra maneira reforça a ideia de que ele não pertence à chamada “velha política”. O presidente deve falar durante 40 minutos. É um longo discurso, mas, em duração, é a metade se comparado às falas dos ex-presidentes Cristina Kirchner (2007-2015) e Alberto Fernández (2019-2023). CULPA DA OPOSIÇÃO Ao longo da semana, assessores do presidente e até mesmo o próprio Javier Milei deram pistas do que deve ser a estratégia. Milei vai defender o forte ajuste fiscal como a única saída para baixar a inflação. Aliás, deve anunciar que o país já não corre mais perigo de uma hiperinflação, graças à eliminação do déficit fiscal logo no primeiro mês de governo. Esse ajuste, no entanto, tem gerado consequências drásticas, sobretudo na classe média-baixa. Por isso, Milei deve reforçar a ideia de que, desta vez, o esforço vai valer a pena. O presidente deve pedir um pouco mais de esforço e de paciência à sociedade, sob a promessa de uma luz no final do túnel nos próximos meses. O problema é atravessar os próximos meses com uma inflação acumulada em mais de 70% só entre dezembro e fevereiro, enquanto os salários, especialmente, os públicos, estão praticamente estagnados. Para isso, Javier Milei tem uma estratégia: convocar os legisladores a aprovarem as leis reformistas. Até agora, nenhuma lei foi aprovada. O presidente deve dizer que não precisa do Congresso para ajustar a economia, mas que se os legisladores aprovarem as leis reformistas, a população vai sofrer menos o ajuste. Sem as leis, o recorte de verbas, e portanto a dor, será maior. Dessa forma, Milei joga a culpa do tamanho do ajuste sofrido pela população na casta política que não quer perder os seus privilégios. “Aqui há duas partes: aqueles que querem uma Argentina diferente e aqueles que não querem. Não interessa o partido político. O que importa é quem quer avançar e quem não. Seguramente, será um discurso que relate a realidade, incluindo o resultado das auditorias deste governo sobre o anterior”, antecipou o porta-voz da Presidência, Manuel Adorni. GANHAR TEMPO Javier Milei https://www.rfi.fr/br/podcasts/linha-direta/20240131-javier-milei-enfrenta-primeiro-prova-de-fogo-no-congresso-com-leis-cruciais-para-o-novo-governoestá há 80 dias no cargo. Por enquanto, a estratégia de culpar a herança recebida tem dado certo. A maior parte da sociedade entende que o país precisa mudar. Milei foi eleito com quase 56% dos votos para mudar o rumo da economia. Ainda mantém cerca de 50% de apoio popular, apesar da perda de poder aquisitivo. Porém, os analistas indicam que, a partir de junho, essa paciência pode cair. Os dois próximos meses tendem a ser os mais difíceis. Até maio, o governo precisa mostrar que a inflação entrou em uma rápida queda. “O presidente mantém liquidez política, com 50% de imagem positiva, mas não possui solvência porque não tem estrutura política. Se Milei disser que não precisa do Congresso para governar, será uma mensagem clara de que vai fundo na sua agenda, independentemente dos obstáculos”, observa Cristian Buttié. “A partir de junho, a sociedade vai começar a auditar a gestão Milei, tornando mais difícil ao novo governo apelar ao argumento da herança”, prevê. Enquanto isso, o governo deve dar sinais concretos de que as coisas estão mudando. No discurso desta sexta-feira, Milei deve divulgar uma série de irregularidades que encontrou no Estado, herança do governo anterior. Nesse sentido, deve apontar ao suposto esquema de corrupção coordenado pelo seu antecessor, o ex-presidente Alberto Fernández. Nas últimas horas, a Justiça indiciou Alberto Fernández por violação dos deveres de um funcionário público, por abuso de autoridade e por uso indevido do dinheiro público. O ex-presidente teria obrigado todos os ministérios a contratarem desnecessários, mas milionários seguros através de um amigo. APOSTA NA POLARIZAÇÃO Javier Milei precisa encontrar culpados por não poder aplicar a sua revolução liberal nos tempos e nas formas pretendidas, ocultando a sua fraqueza política de origem. O presidente tem uma hiper minoria no Congresso. Apenas 15% dos deputados e 10% dos senadores. Apesar dessa fragilidade, o presidente tem redobrado a aposta na polarização contra o que ele denomina como “casta política que não quer perder os seus privilégios”. Em vez de recuar e ceder ao jogo político dos acordos como um político tradicional, Milei deve traçar uma linha: quem está a favor e quem está contra a mudança. E contra a mudança estão todos aqueles que não pensam como ele. Segundo o deputado Martín Tetaz, a tática é de Murray Newton Rothbard, economista, filósofo e historiador admirado por Milei. “Num artigo de 1992, Murray Newton Rothbard diz que um governo libertário deve, para além de discutir reformas, aplicar um populismo de direita. Ou seja: construir um relato do tipo ‘nós ou eles’. Milei vai reforçar esse discurso no qual ‘nós’ são os que governam e ‘eles’ são os que pensam diferente e, portanto, são inimigos”, explica o deputado. Em 80 dias de governo, Milei só somou novos inimigos e adversários. Chamou o Congresso de “ninho de ratos”; acusou os deputados de extorsão em troca de votos e até alguns aliados foram classificados como “traidores”. “Claramente, Milei não construiu nenhuma ponte. Pelo contrário, destruiu todas as que tentavam construir”, afirma Cristian Buttié. REAÇÃO OPOSITORA Como os opositores podem reagir se forem agora atacados? Tudo vai depender do teor do discurso, mas os opositores devem levar cartazes para exibir como resposta, podem ficar de costas para o presidente em sinal de desprezo e até podem abandonar a sessão. O que está previsto, mas não se sabe com qual intensidade, é um panelaço contra o presidente Javier Milei do lado de fora do Congresso.

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Mar 01, 2024
Com bloqueios de Israel por terra, aviões lançam ajuda humanitária sobre a Faixa de Gaza

Pela primeira vez desde o início dos conflitos, as Forças Aéreas Egípcias anunciaram o envio de ajuda humanitária por via aérea para a Faixa de Gaza. Imagens foram divulgadas com um avião sendo abastecido com alimentos e medicamentos numa operação com o apoio dos Emirados Árabes Unidos e a Jordânia. No início da semana, o exército jordaniano divulgou que fez uma série de entregas de ajuda humanitária de alimentos e outros suprimentos em Gaza, inclusive usando um avião do exército francês em uma dessas entregas. Vídeos com imagens de palestinos recolhendo as doações que caiam do céu com paraquedas circulam em redes sociais. Um deles foi gravado por um jovem que carregava nos ombros o que recolheu e celebrava. “Um saco de farinha. Depois de um mês. Que um mês, um milhão de anos. Eu sinto como se fossem milhares de anos”, disse, mostrando ainda outras muitas pessoas que também carregavam na praia as doações. Em outro vídeo, uma palestina agradece, mas lembra que aqueles que continuam no norte de Gaza passam mais necessidades do que os que se deslocaram para o sul, na fronteira com o Egito. O responsável pelo UNICEF no Egito, Jeremy Hopkins, disse à RFI estar extremamente preocupado, principalmente, com as 600 mil crianças atualmente deslocadas em Rafah entre toda a população civil que vive em circunstâncias tão terrivelmente difíceis https://www.rfi.fr/pt/mundo/20231223-gaza-onu-exige-entrada-de-ajuda-humanitária-em-grande-escala-sem-apelar-a-um-cessar-fogo. RISCOS  A falta de água potável, de serviços de saneamento e de instalações sanitárias e de higiene básica está aumentando rapidamente para uma emergência de saúde pública, com o risco de surtos de doenças em grande escala. “Agradecemos a facilitação do governo egípcio no fluxo de suprimentos humanitários para Gaza e continuamos a trabalhar em estreita colaboração com o Crescente Vermelho Egípcio a este respeito. Contudo, isto não é o suficiente", afirmou. "Os fornecimentos humanitários que entram em Gaza não são suficientes e o setor privado também deve ser autorizado e habilitado a operar em conjunto com as organizações de ajuda. Mais importante ainda: nenhuma criança em Gaza estará segura até que haja um cessar-fogo e reitero este apelo às partes em conflito, a fim de permitir que o Unicef e outros forneçam apoio humanitário vital onde é tão desesperadamente necessário, e para todas as crianças https://www.rfi.fr/br/mundo/20240220-por-falta-de-água-e-comida-90-das-crianças-menores-de-5-anos-sofrem-de-infecções-na-faixa-de-gaza”, acrescentou. CRÍTICAS A ISRAEL Organizações internacionais vêm criticando os obstáculos impostos por Israel para a entrega desse tipo de ajuda através de caminhões vindos do Egito, que já recebeu mais de 500 aviões, de diferentes países, incluindo o Brasil https://www.rfi.fr/br/mundo/20240118-maior-doação-brasileira-para-palestinos-da-faixa-de-gaza-está-retida-no-egito, trazendo ajuda para palestinos mantidos em Gaza. Foram cerca de 15.000 toneladas até agora. Essas doações se concentram na cidade de Al-Arish e vão em caminhões para a Faixa de Gaza, através das passagens de Rafah e Karm Abu Salem. Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), “os comboios de ajuda têm sido atacados e o acesso às pessoas necessitadas tem sistematicamente sido negado. Os trabalhadores humanitários foram assediados, intimidados ou detidos pelas forças israelenses e as infraestruturas humanitárias foram atingidas”. A Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (PRCS) decidiu suspender todos os procedimentos de coordenação humanitária em missões médicas na Faixa de Gaza "devido à falha em garantir a segurança das equipes de serviços médicos de emergência, dos feridos, e os doentes nos hospitais." A organização disse que a ocupação israelense deteve sete integrantes de sua equipe, incluindo técnicos de anestesia e um médico. “Eles foram presos durante o ataque da ocupação israelita ao Hospital Al-Amal e o seu destino permanece desconhecido neste momento”, afirmou o PRCS, que criticou a falta de compromisso e respeito demonstrados pelas forças de ocupação israelenses para com os procedimentos e mecanismos de coordenação acordados com as organizações das Nações Unidas. Em novo balanço divulgado nesta quarta-feira, o Ministério da Saúde palestino informou que desde o início do conflito entre Israel e Hamas, 29.954 pessoas morreram e 70.325 ficaram feridas. Estima-se que outras milhares de vítimas ainda estejam sob os escombros, enquanto equipes de resgate tentam encontrá-las mesmo sob ataques israelenses. PROPOSTA DE TRÉGUA O Hamas recebeu e analisa uma espécie de rascunho de uma proposta de trégua em Gaza. Segundo a imprensa, a entrega do documento foi em Paris https://www.rfi.fr/br/podcasts/linha-direta/20240226-negociações-indiretas-entre-israel-e-o-hamas-sobre-cessar-fogo-avançam-israelenses-pressionam-governo, durante uma roda de conversas com mediadores que tentam chegar a um cessar-fogo. Esta proposta fala em uma pausa nas operações militares e troca de prisioneiros palestinos por reféns israelenses, inicialmente durante 40 dias. Também consta na proposta: - Retorno gradual de todos os civis deslocados – exceto homens em idade de serviço militar – ao norte da Faixa de Gaza. - Depois de iniciar a primeira fase, Israel reposicionará as suas forças longe das áreas densamente povoadas da Faixa de Gaza. E sobre ajuda humanitária para a Faixa de Gaza: - Compromisso de trazer 500 caminhões por dia de ajuda humanitária. - Fornecer 200 mil tendas e 60 mil caravanas. - Permitir a reabilitação de hospitais e padarias em Gaza - Israel concorda com a entrada de máquinas e equipamentos pesados para remoção de escombros e assistência com outros fins humanitários, com o fornecimento de remessas de combustível necessárias para esses fins. O Hamas se compromete a não utilizar estas máquinas e equipamentos para ameaçar Israel. "Um cessar-fogo humanitário imediato e duradouro é a única forma de acabar com a matança e os ferimentos de crianças, a única forma de proteger os civis e a única forma de permitir a entrega urgente da ajuda vital desesperadamente necessária. Mais do que tudo, as crianças de Israel e o Estado da Palestina precisam de uma solução política duradoura para a crise, para que possam crescer em paz e livres da sombra da violência”, reforçou Jeremy Hopkins. Enquanto os Estados Unidos anunciaram mais US$ 53 milhões em assistência humanitária aos palestinos, há no mundo árabe uma expectativa para que se chegue logo a uma decisão antes do dia 11 de março, quando começa o Ramadã, https://www.rfi.fr/br/mundo/20240227-israel-poderá-suspender-operações-militares-em-gaza-durante-o-ramadã-diz-biden mês sagrado para os muçulmanos dedicado a jejum e orações.

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Feb 28, 2024
Negociações indiretas entre Israel e o Hamas sobre cessar-fogo avançam; israelenses pressionam governo

Novas negociações indiretas entre Israel e o Hamas parecem mostrar progressos. Depois de mais uma rodada de debates em Paris no último final de semana, um acordo parece estar mais próximo do que nunca. Ainda há diferenças entre as partes, mas já existe pelo menos um esboço do que pode ser um plano de cessar-fogo para interromper este ciclo de violência entre israelenses e palestinos. Internamente, população israelense pressiona governo. O Gabinete de Guerra de Israel recebeu de David Barnea, diretor do Mossad, o serviço secreto, a atualização sobre as negociações em Paris https://www.rfi.fr/br/mundo/20240223-chefe-do-mossad-o-serviço-secreto-de-israel-viaja-a-paris-para-negociar-trégua-na-guerra-com-hamas. Na sequência, este fórum reduzido que tem o poder de tomar as decisões sobre as operações militares israelenses aprovou a viagem de uma delegação para o Catar de forma a prosseguir com as negociações. Segundo fontes do Egito, as conversas já estão em curso.  Se em Paris o debate foi sobre as linhas gerais do acordo, no Catar a expectativa é de conversas mais específicas. Na prática, isso significa estabelecer números e prazos: quantos reféns serão libertados, quando isso vai acontecer, qual a proporção entre reféns israelenses e prisioneiros palestinos, quanto tempo vai durar o cessar-fogo.  Um dos aspectos mais problemáticos diz respeito à lista de prisioneiros palestinos que devem ser libertados. Principalmente os que têm "sangue nas mãos", como se diz por aqui. Ou seja, prisioneiros julgados e condenados por envolvimento direto em ataques terroristas que resultaram na morte de cidadãos israelenses.  O Hamas já deixou claro que não recuou na exigência de libertar justamente esses prisioneiros, que são aqueles que cumprem as penas mais longas.  ESBOÇO Tzachi Hanegbi, Conselheiro de Segurança Nacional de Israel, disse que "há possibilidades de avanços nas negociações" por um acordo. Hanegbi é um dos nomes próximos ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.  A avaliação aqui em Israel é que este é um momento de "otimismo cauteloso", expressão já usada anteriormente e que não produziu os resultados esperados. Mas agora, se de fato o Hamas reduziu as expectativas em relação a números e ao próprio fim da guerra, é possível que um acordo de cessar-fogo seja alcançado antes do início do Ramadã, em 10 de março. O esboço do acordo já encaminha ao menos linhas gerais de números e prazos debatidos entre as partes. Mas ainda NÃO há um acordo fechado. Esses são os pontos principais: 1 - Libertação de 35 a 40 reféns israelenses. Se inicialmente o Hamas pretendia obter a contrapartida de libertação de milhares de prisioneiros palestinos, agora é possível que este número seja mais modesto, na casa das centenas. Fala-se em 200 a 300 prisioneiros palestinos. Um dos pontos mais problemáticos das discussões diz respeito à identidade desses prisioneiros. O Hamas não abre mão de libertar os quem cumprem as penas mais longas por terem cometido os crimes mais graves contra cidadãos israelenses.  2 - Os reféns israelenses a serem libertados neste primeiro momento devem ser mulheres (civis e militares), crianças, idosos e pessoas doentes. 2 - A pausa deve se estender por cerca de seis semanas, tempo que já havia sido proposto anteriormente pelo governo dos Estados Unidos.  3 - É possível que a primeira libertação de reféns israelenses e prisioneiros palestinos ocorra antes de 10 de março, quando os muçulmanos iniciam as celebrações do mês sagrado do Ramadã.  4 - O Hamas acredita que nesta primeira fase do acordo as tropas israelenses devem se retirar do centro das cidades da Faixa de Gaza. Além disso, Israel deve permitir o retorno da população do norte do território que foi deslocada para o sul. Uma das exigências do grupo é que Israel retire as barreiras militares que hoje dividem Gaza. Até o momento, no entanto, não há uma posição oficial por parte do Hamas. Inclusive há relatos contraditórios negando os avanços nas negociações. https://www.rfi.fr/br/mundo/20240217-hamas-ameaça-suspender-negociações-de-trégua-sem-ajuda-imediata-a-gaza O Hamas tem afirmado desde as primeiras conversas indiretas que só tem interesse num acordo caso ele esteja vinculado a dois movimentos que Israel se recusa a fazer: retirar as tropas de toda a Faixa de Gaza e dar a guerra por encerrada.  PRESSÃO DOMÉSTICA DOS ISRAELENSES Internamente em Israel, a população aumenta a pressão sobre o governo. As manifestações que acontecem sempre nas noites de sábado têm mudado de pauta. Ou melhor, tem acrescentado demandas. Se durante este período de guerra os protestos exigiam um acordo imediato por parte da coalizão de Netanyahu, agora a política entrou de vez na agenda. E o alvo é justamente o primeiro-ministro.  Os manifestantes colocam na conta de Netanyahu as falhas de segurança que levaram aos ataques do Hamas em 7 de outubro e também o acusam de jogar com a vida dos reféns. Isso porque um acordo que liberte os israelenses pode levar ao fim da coalizão, já que alguns dos ministros que compõem o governo ameaçam abandoná-lo a depender dos compromissos assumidos.  E aí a coalizão poderia perder a maioria das cadeiras do Knesset, o parlamento, o que levaria o país a novas eleições - resultado que Netanyahu não quer, uma vez que as pesquisas mostram que o partido dele, o Likud, pode vir a perder quase metade das cadeiras.  Todas as pesquisas eleitorais deixam claro que num eventual novo pleito, a oposição ao governo atual passaria a ter amplo controle do parlamento. O levaria Netanyahu a perder o cargo de primeiro-ministro.  No último final de semana, as manifestações em Tel Aviv sofreram repressão violenta pela primeira vez. A polícia agiu com truculência buscando dispersar a multidão com cavalos e até com canhões d'água. Vinte e uma pessoas foram presas, e cinco, feridas. Essa atuação causou revolta na sociedade, levando a polícia a iniciar uma investigação interna depois da divulgação de imagens e vídeos dos confrontos com os manifestantes. 

7m
Feb 26, 2024
Sintonia em encontro de Blinken com Milei na Argentina expõe diferença da reunião com Lula

Os governos de Argentina e Estados Unidos estão em sintonia a favor de Israel e Ucrânia e contra a influência de China e o regime de Nicolás Maduro. Os Estados Unidos têm na liderança de Javier Milei um contrapeso perante os demais líderes da região, principalmente Lula. Javier Milei viaja aos Estados Unidos para participar de conferência conservadora, palanque político de Donald Trump. O presidente argentino, Javier Milei, e o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, reúnem-se no final da manhã desta sexta-feira (23) na Casa Rosada, exibindo uma harmonia em relação à agenda internacional, que destoa daquela que Blinken teve no Brasil com Lula. Os Estados Unidos têm o interesse de reforçar a liderança de Javier Milei, apoiando a recuperação da economia, mas querem garantias de apego aos direitos humanos e à democracia. O argentino, por sua vez, precisa manter um equilíbrio fino na política interna norte-americana: horas depois da reunião com Blinken, Milei viaja a Washington para participar da conferência conservadora do aliado Donald Trump, adversário político de Joe Biden. Segundo a agenda oficial divulgada pelo Departamento de Estado, Blinken vai abordar assuntos como “crescimento econômico sustentável, compromisso com os direitos humanos e com a democracia, minérios críticos e melhora do comércio e do investimento”. “Antony Blinken quer conhecer de primeira mão a situação da Argentina e dar um sinal de apoio. É provável que a Argentina queira um empréstimo adicional do Fundo Monetário Internacional para o qual os Estados Unidos são a chave. Mas há dois assuntos caros para os Estados Unidos: direitos humanos e mudanças climáticas. Os Estados Unidos querem que as reformas aconteçam sob garantias democráticas com a manutenção de direitos humanos”, explica à RFI o sociólogo argentino e catedrático em Relações Internacionais na Universidade Di Tella, Juan Gabriel Tokatlian. “Para Milei, o apoio econômico dos Estados Unidos é fundamental para o mercado financeiro, mas, para os Estados Unidos, a maioria das medidas nas que Milei procurou avançar https://www.rfi.fr/br/podcasts/linha-direta/20231228-milei-lista-as-medidas-da-sua-revolução-liberal-que-pode-taxar-brasileiros-que-estudam-na-argentina afetavam direitos fundamentais, direitos trabalhistas e direitos ambientais”, acrescenta Tokatlian, uma das maiores referências na América Latina sobre as relações dos Estados Unidos com os países da região. PREOCUPAÇÃO COM O PLANO MOTOSSERRA DE MILEI Javier Milei tem avançado velozmente com o equilíbrio fiscal do Estado, aplicando uma receita que combina corte do gasto público com diluição de salários e aposentadorias. Com isso, a pobreza também tem crescido velozmente como consequência de uma inflação de dois dígitos mensais e de uma estagnação do poder aquisitivo. O Subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, destacou “o esforço de Milei para reformar a economia argentina”, mas também sublinhou “a importância de proteger os mais vulneráveis da sociedade”. Javier Milei é um crítico da denominada “justiça social” e despreza a agenda climática. Até nega que seja a ação do homem a razão para as alterações do clima. Quanto ao capítulo “minérios críticos”, a Argentina já se tornou o maior fornecedor latino-americano de lítio aos Estados Unidos. “A Argentina quer ter menos vínculo com a China em matéria de recursos críticos, enquanto existe mais interesse dos Estados Unidos em matéria energética. Blinken pretende abrir um espaço para a Argentina no mundo dos negócios”, aponta Tokatlian. SINTONIA EM POLÍTICA EXTERNA Em termos de política externa, a sintonia entre os governos de Joe Biden e de Javier Milei é total. Basicamente, Javier Milei é um aliado incondicional dos Estados Unidos e de Israel, em detrimento de qualquer vínculo com China, Rússia ou Venezuela. Até mesmo a estratégica e histórica aliança da Argentina com o Brasil foi posta no freezer, sobretudo por ser conduzida pelo presidente Lula, adversário do aliado de Milei, o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Milei tem procurado uma relação estreita com os Estados Unidos desde a campanha eleitoral do ano passado. De repente, Washington se topou com uma situação inesperada de um governo abertamente pró-Estados Unidos”, destaca Tokatlian. Milei acoplou a sua agenda internacional à agenda dos Estados Unidos e de Israel. A tradução desse acoplamento é uma posição a favor da Ucrânia e contra a Rússia de Vladimir Putin, contra a influência geopolítica da China, mesmo sendo a China o segundo maior importador de produtos argentinos, contra a Venezuela de Nicolás Maduro e contra até mesmo a entrada já aprovada da Argentina no BRICS https://www.rfi.fr/br/américas/20231229-argentina-fora-dos-brics-milei-anuncia-decisão-no-dia-em-que-decreto-que-flexibiliza-economia-entra-em-vigor, por considerar que o bloco seja um instrumento geopolítico da China. “Washington quer testar a Argentina e conhecer qual é o compromisso de estreita aproximação de Milei e ver até onde chega essa vontade de distanciamento da China”, indica o especialista Juan Gabriel Tokatlian. Diante do conflito entre Israel e o Hamas, Milei é a favor do direito irrestrito de Israel de se defender. A aliança com Israel é, aliás, ideológica e espiritual. Na Argentina de Milei, os ataques de Israel ao Hamas nunca seriam comparados ao Holocausto como fez Lula https://www.rfi.fr/br/brasil/20240218-lula-critica-falta-de-humanidade-de-países-com-palestinos-e-compara-guerra-em-gaza-ao-holocausto. CONTRAPESO COM LULA Segundo Juan Gabriel Tokatlian, os Estados Unidos não procuram um contrapeso a Lula na região, até porque a Argentina não tem no cenário internacional o mesmo peso do que o Brasil. No entanto, a visão diametralmente oposta entre as duas posturas naturalmente marca uma diferenciação. Tokatlian sublinha que “não sobram hoje na América Latina líderes dispostos a defender abertamente os ataques de Israel”, citando os casos dos presidentes de Colômbia, Chile e México, críticos dos ataques de Israel na Faixa de Gaza. A voz de Milei tem, portanto, um conteúdo que interessa aos Estados Unidos ecoar. Como a vinda de Blinken acontece logo após a declaração de Lula e a visita ao Brasil nesta semana, o contraste é natural. Atualmente, na América Latina, não aparecem líderes dispostos a conter a China nem os que condenam, explicitamente, o regime de Nicolás Maduro. “Seguramente, Blinken vai dar os parabéns a Milei pela política de princípios e de compromisso, mas não acredito que esse contraponto com o Brasil seja estratégico para os Estados Unidos. Se virmos as votações dos países da América Latina na Assembleia Geral da ONU no que se refere à Faixa de Gaza, veremos que o único país que mudou de posição foi a Argentina. Então, os Estados Unidos têm agora um parceiro que pensa igual, mas isso não chega a ter um impacto regional”, avalia Tokatlian. VIAGEM AO BERÇO CONSERVADOR DE TRUMP Antony Blinken deve partir de Buenos Aires no meio da tarde. À noite, Javier Milei viaja a Washington para participar, no sábado, da Conferência de Ação Política Conservadora, que acontece em Maryland. “Milei vai a uma reunião de ultraconservadores para abraçar a agenda de Trump. Isso inquieta o governo Biden”, considera Tokatlian. No sábado (23), por volta do meio-dia, Donald Trump, adversário de Joe Biden, dará, nessa conferência, um discurso de campanha. Três horas depois de Trump, Javier Milei fará uma palestra. Para manter um equilíbrio entre o republicano e o democrata, Milei fará uma palestra técnica sobre economia, evitando uma reunião bilateral com Trump. É possível que haja uma foto entre Milei e Trump, mas o presidente argentino deve cuidar para não dar um apoio explícito ao seu preferido.  “As preferências de Milei são evidentemente maiores com Trump, mas, no curto prazo, Milei precisa de Biden. Milei precisa conviver com um governo democrata, mas ama um governo republicano”, conclui Juan Gabriel Tokatlian em entrevista à RFI.

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Feb 23, 2024
Fala de Lula sobre Israel não afeta imagem no exterior mas também não ajuda palestinos

A solução do conflito na Faixa de Gaza continua nas mãos dos Estados Unidos, afirmam analistas entrevistados pela RFI. Ao comparar a situação de crianças em Gaza com o Holocausto de judeus pelos nazistas, o presidente brasileiro atiçou seus opositores no Brasil e municiou o discurso do governo israelense, sem chegar a comprometer o prestígio que tem fora do país. A crise diplomática advinda da frase de Lula reduziu os holofotes sobre seus adversários, como Jair Bolsonaro, em um momento decisivo das investigações sobre a tentativa de golpe no Brasil, com depoimento do ex-presidente na Polícia Federal marcado para esta quinta-feira (22). Porém, o impacto das declarações do petista https://www.rfi.fr/br/brasil/20240219-israel-declara-lula-persona-non-grata-por-comparar-ofensiva-em-gaza-a-holocausto nas pretensões internacionais do Brasil são outra história. Especialistas ouvidos pela RFI dizem que o episódio não prejudica as relações externas do país nem a avaliação pessoal do presidente lá fora. Por sua vez, também não ajuda a resolver o drama dos palestinos na Faixa de Gaza https://www.rfi.fr/br/mundo/20240219-médico-francês-retorna-de-gaza-e-compara-situação-de-palestinos-à-de-judeus-no-gueto-de-varsóvia. “Ao definir a situação dos palestinos em Gaza como genocídio, o presidente Lula busca mudar o patamar da compreensão internacional acerca do conflito. O ponto é que o alívio para os palestinos só virá com a entrada dos Estados Unidos em favor de fato de um cessar-fogo. Crucial, portanto, é o papel dos americanos, que, no entanto, têm sido fiel aliado de Israel em todos esses anos”, afirmou o professor de Relações Internacionais Roberto Goulart Menezes, doutor em Ciência Política.             Nesta semana, o Brasil recebe chanceleres do G20 para as reuniões setoriais do grupo, no Rio de Janeiro. “O contexto geopolítico é sempre levado em conta pelos diferentes países, não tem jeito. Mas não acho que isso ofusca o evento https://www.rfi.fr/br/brasil/20240221-em-reunião-do-g20-ministro-mauro-vieira-critica-gastos-militares-e-paralisia-do-conselho-da-onu, até porque eles têm de lidar com as questões de finanças nesse encontro”, disse Menezes.  A repercussão política das declarações de Lula dominou o noticiário no Brasil no início da semana, a ponto de gerar certo desconforto pela colocação, em segundo plano, da situação das vítimas civis em Gaza, em geral resumida ao quantitativo balanço de mortos. Para o analista e professor de Filosofia Nelson Gonçalves Gomes, da Universidade de Brasília, Lula deve condenar a morte de civis, mas sem improvisos e seguindo orientações de sua equipe diplomática.                                                                                                    “O assunto Holocausto é extremamente sensível e não deve ser invocado como foi na fala do presidente Lula. Agora, isso não significa que o Brasil deva ficar em silêncio frente ao que está acontecendo em Gaza. Realmente Israel deve ser condenado pelas atrocidades que está cometendo, pela carnificina, pela completa destruição de um povo que lá vive”, afirmou Gonçalves Gomes. “Tudo isso merece o repúdio do Brasil, assim como os atentados do Hamas no dia 7 de outubro que igualmente merecem repúdio. Mas isso deve ser conduzido pelos diplomatas, sobretudo nos organismos internacionais”, avalia Gonçalves Gomes. Leia tambémÉ “incabível” Lula comparar ataques em Gaza com genocídio dos judeus, diz historiador do Museu do Holocausto https://www.rfi.fr/br/brasil/20240221-em-reunião-do-g20-ministro-mauro-vieira-critica-gastos-militares-e-paralisia-do-conselho-da-onu O Itamaraty tem tentado colocar panos quentes, reforçando a condenação ao massacre, especialmente de mulheres e crianças pelo exército de Israel. A diplomacia brasileira sublinha que a crítica é destinada ao governo no poder e não aos israelenses. "SENSIBILIDADE SELETIVA" Já para o historiador Fábio Koifman, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o presidente brasileiro deveria ter vindo a público e se desculpado. “Lula deveria se retratar pois sua fala foi fora do tom, algo ruim em Relações Internacionais. Agora, tudo isso foi usado politicamente no Brasil e em Israel. Por isso, posições nessa linha só atrapalham, só ampliam o tempo de guerra”. O historiador, no entanto, não vê danos maiores ao prestígio de Lula no cenário internacional, até por enxergar que o presidente reforça a atuação que teve nos dois primeiros governos, já conhecida por seu pares. “É a sensibilidade seletiva que outros presidentes brasileiros também aplicaram. Há críticas muito duras para alguns governos, mas ela é atenuada de acordo com a simpatia ou antipatia pelo regime de cada país. Recentemente, Lula deu sinais disso ao não criticar a morte do opositor do governo Putin, contemporizando e lançando dúvidas ao fato. Mas isso não afeta sua imagem, o prestígio de Lula não se limita a isso. E nem acredito que alguém possa ser considerado racista ou antissemita por conta de uma frase dita aleatoriamente em um momento de tensão, descuido ou de cansaço”, enfatizou Koifman.

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Feb 22, 2024
Tensões com Israel e Rússia marcam primeiro dia de encontro de chanceleres do G20 no Rio

Rachado, o grupo das 20 maiores economias do mundo “deve lavar a roupa suja” no primeiro dia de reunião de ministros das Relações Exteriores no Rio de Janeiro, a capital do G20 pelos próximos dois dias. Esta será a primeira vez desde o início da guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, desencadeada pelo ataque do movimento islâmico palestino em 7 de outubro, que os chanceleres do grupo se reúnem para uma avaliação da conjuntura internacional. O primeiro dia do encontro de chanceleres do G20, nesta quarta-feira (21), irá tratar das grandes questões geopolíticas que tanto dividem as nações. Assim, espera-se que haja espaço no segundo dia para as discussões sobre governança global, uma das prioridades da presidência brasileira durante a gestão dessa instância multilateral, que se encerra em novembro. Os debates acontecem dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desencadear uma crise diplomática com Israel, após comparar a ação do governo israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto e a Rússia revelar que o maior opositor ao governo de Vladimir Putin, o advogado e ativista Alexei Navalny, morreu em uma penitenciária de segurança máxima no Ártico https://www.rfi.fr/br/mundo/20240219-rússia-se-recusa-a-entregar-corpo-de-navalny-à-família-viúva-acusa-putin-pela-morte, às vésperas da eleição presidencial naquele país, que segue em guerra contra a Ucrânia. A presidência brasileira do G20 optou por uma pauta de discussões aberta neste primeiro dia para que as divergências entre os países sejam expostas. Assim, a portas fechadas, todos terão a oportunidade de defender suas posições na tumultuada agenda geopolítica. É um momento para “se lavar a roupa suja”, segundo um interlocutor ouvido pela RFI. As diferentes nações devem trocar recados e, possivelmente, muitas farpas. A expectativa é que, desta maneira, se libere a pauta temática que o Brasil considera prioritária para esta primeira rodada entre os chanceleres que é a de reformas do sistema de governança global e do multilateralismo. Esse é um dos três pilares da presidência brasileira, junto com o combate à fome e às desigualdades e a mudança do clima. O Brasil preparou uma agenda clara, um documento com seis páginas de subsídios para as discussões. A diplomacia brasileira quer resultados nessa seara. É uma das marcas que o governo Lula quer deixar da presidência brasileira à frente do G20. Como não há previsão de uma declaração conjunta ao final dos dois dias de reuniões, a ideia é que se discuta o que tem que ser debatido e deixe a poeira sobre as questões mais espinhosas baixar até novembro. Um comunicado com as posições de consenso do grupo deverá ser divulgado apenas depois do encontro dos chefes de Estado e de governo no final do ano. A cúpula de líderes também acontecerá no Rio de Janeiro, quando o Brasil passará a presidência do G20 para a África do Sul. REFORMA DA GOVERNANÇA GLOBAL O objetivo do encontro na Marina da Glória é aparar arestas e passar para o tópico seguinte da agenda, que, mais do que nunca, está relacionado à questão geopolítica a ser tratada no primeiro momento. O atual modelo de governança global, segundo o governo brasileiro, não reflete mais a realidade internacional. Conflitos como o da Rússia e Ucrânia, que entra em seu terceiro ano, e o de Israel e o Hamas em Gaza não encontram solução no Conselho de Segurança na ONU. A Organização Mundial de Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird) são dominados por um conjunto reduzido de países que não representam as economias de maior peso e tampouco atendem as demandas das nações em desenvolvimento. Esses temas serão tratados no segundo dia do encontro. Ou seja, o primeiro dia será o maior exemplo para todos de que as instituições, como estão, já não funcionam para responder às questões globais. É nisso que aposta o governo brasileiro. A crise diplomática provocada pelo presidente Lula com Israel põe, de certa forma, lenha na fogueira. Lula foi declarado "" pelo governo israelense https://www.rfi.fr/br/brasil/20240219-israel-declara-lula-persona-non-grata-por-comparar-ofensiva-em-gaza-a-holocausto. Mas os problemas não se resumem às críticas do líder brasileiro. O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, ex-premiê britânico, foi declarado no mesmo dia "" pela Argentina, após visita às Ilhas Malvinas. O chanceler russo, Serguei Lavrov, desembarca no Brasil em meio à guerra com a Ucrânia e à morte não elucidada do opositor Alexei Navalny na prisão.  Neste contexto conturbado, durante o encontro do Rio deve ser confirmada a realização de uma segunda reunião de chanceleres do G20, que acontecerá à margem da Assembleia-Geral da ONU em setembro. Esta é outra novidade da presidência brasileira do grupo. Será a primeira vez que os ministros das Relações Exteriores se reunirão na sede da ONU, o que se espera que seja interpretado como um forte gesto diplomático. "Ao patrocinar esse encontro, o Brasil busca enfatizar a necessidade de aproximar as discussões no âmbito da ONU e do G20, e de avançar de forma decidida rumo a uma reforma ampla das instituições da governança global”, segundo o governo brasileiro. MAURO VIEIRA DÁ RESPOSTA DURA AO POSICIONAMENTO DE ISRAEL   Na saída da Marina da Glória, onde acontece a reunião do G20, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, reagiu de maneira dura às manifestações do titular da chancelaria do governo de Benjamin Netanyahu, que chamou de "inaceitáveis" na forma e "mentirosas" no conteúdo. Vieira afirmou que "recorrer sistematicamente à distorção de declarações é vergonhosa página da história da diplomacia de Israel". Mas se disse seguro de que a atitude do governo Netanyahu não reflete o sentimento da sua população. O chefe da diplomacia brasileira acrescentou que “o povo israelense não merece essa desonestidade, que não está à altura da história de luta e de coragem do povo judeu". Vieira admitiu nunca ter visto nada parecido nos seus mais de 50 anos de carreira. Ele acusou o ministro israelense Israel Katz de distorcer posições do Brasil para tirar proveito em política doméstica. "Além de tentar semear divisões, estaria buscando aumentar sua visibilidade no Brasil para lançar uma cortina de fumaça que encubra o real problema do massacre em curso em Gaza, onde 30 mil civis palestinos já morreram, em sua maioria mulheres e crianças, e da população submetida a deslocamento forçado e a punição coletiva https://www.rfi.fr/br/mundo/20240219-médico-francês-retorna-de-gaza-e-compara-situação-de-palestinos-à-de-judeus-no-gueto-de-varsóvia”, disse. Isso tem levado ao crescente isolamento internacional do governo Netanyahu, segundo ele, fato que estaria refletido nas deliberações em andamento na Corte Internacional de Justiça, a mais alta instância jurídica da ONU. "É este isolamento que o titular da chancelaria israelense tenta esconder. Não entraremos nesse jogo. E não deixaremos de lutar pela proteção das vidas inocentes em risco”, ressaltou.

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Feb 21, 2024
Venezuela e Rússia estreitam cooperação em nova visita de Lavrov a Caracas

O chefe da diplomacia russa, Sergey Lavrov, e o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, voltam a se encontrar nesta terça-feira (20) em Caracas. Proveniente de Cuba, o chanceler russo chega à Venezuela em um momento conturbado. Representantes da oposição, unidos na Plataforma da Unidade Democrática, criticaram em reunião com representantes da Noruega a demora na divulgação do calendário eleitoral de 2024 e a controvertida prisão de uma advogada especialista em questões militares. Sergey Lavrov passa apenas um dia em Caracas, antes de viajar ao Brasil para participar de reuniões do G20. Ele reencontrará a cúpula chavista e Nicolás Maduro, na segunda visita ao país andino desde abril de 2023. Venezuela e Rússia assinarão um “Memorando de entendimento sobre cooperação para neutralizar medidas coercitivas unilaterais” – uma espécie de blindagem a possíveis ações de países críticos aos dois governos. Em homenagem ao país aliado, será inaugurada em uma praça da capital venezuelana a estátua do poeta russo Aleksandr Pushkin (1799-1837). O Executivo não deu maiores detalhes da agenda, mas Moscou e Caracas devem revisar parte dos 300 acordos já assinados nas áreas de agricultura, energia, finanças, turismo e cooperação militar.  Dez meses atrás, Lavrov classificou a Venezuela como um de seus “parceiros mais confiáveis”. Os dois países se aproximaram durante o governo de Hugo Chávez (1954-2013). A relação se estreitou em 2005 com a assinatura de acordos militares bilaterais.   Em Cuba, Lavrov criticou o “domínio” e a “hegemonia” de Washington. O russo afirmou que os meios usados pelos Estados Unidos não incluem “diplomacia, mas sim chantagem, ultimatos, ameaças, uso da força militar bruta e de sanções”. O chanceler russo chega horas após a saída da Venezuela de 13 funcionários do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU. Na semana passada, eles tiveram as “atividades suspensas” pelo chanceler Yván Gil após serem acusados de apoiar supostos “grupos de golpistas e terroristas”. Críticos apontam que a expulsão foi motivada pela posição do órgão diante da prisão da advogada Rocío San Miguel. ACORDO DE BARBADOS Na tarde de segunda-feira (19), representantes da Noruega, do governo Maduro e da Plataforma da Unidade Democrática, formada por opositores, voltaram a se encontrar em Caracas. Durante a reunião, o opositor Gerardo Blyde entregou dois documentos aos diplomatas da Noruega, país que atua como mediador entre governo e oposição. Um dos textos denunciava as violações do Acordo de Barbados e o segundo, a escalada da perseguição política nas últimas semanas, como ilustra a detenção da advogada Rocío San Miguel. A Plataforma da Unidade Democrática pediu ao governo de Nicolás Maduro para cumprir os acordos assinados em Barbados em toda a sua extensão, encerrar a repressão e gerar condições que permitam a realização do processo eleitoral com garantias – incluindo o respeito à candidatura de Maria Corina Machado, que mesmo inabilitada politicamente ganhou milhares de votos nas primárias da oposição.    No Acordo de Barbados, assinado em outubro de 2023 no país caribenho, ambas as partes se comprometeram, entre outros temas, a promover os direitos políticos e as garantias eleitorais para um pleito competitivo. Em janeiro deste ano, Maduro afirmou que o pacto estava “mortalmente ferido”, após a denúncia da descoberta de um suposto plano conspiratório batizado de “Bracelete Branco”, que atentaria contra a vida do presidente e de altos funcionários de seu governo. PROTESTO PEDE LIBERTAÇÃO DE ADVOGADA Foi no contexto desse suposto plano que a advogada Rocío San Miguel, especialista em temas militares e presidente da ONG Controle Cidadão, foi presa no aeroporto há pouco mais de uma semana por agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) e da Direção-geral de Contrainteligência Militar (DGCIM).  O procurador-geral Tarek Willian Saab disse na tarde de segunda-feira que Rocío San Miguel tinha o papel de “coordenar e informar toda a equipe de comunicação” na suposta conspiração. Apenas no domingo (18), a advogada teve o direito de receber a visita de sua filha, Miranda. Ela informou que a mãe “está forte e muito confiante em sua inocência”. Depois de ser detida no aeroporto internacional em 9 de fevereiro, Rocío San Miguel ficou desaparecida por cerca de 100 horas https://www.rfi.fr/br/américas/20240213-presidente-de-ong-está-desaparecida-há-mais-de-100-horas-na-venezuela. Tarde da noite de segunda-feira passada, ela foi levada a um tribunal. Na audiência de apresentação, San Miguel não pôde escolher seu advogado de defesa. Ela se encontra detida no Helicoide, a sede do Serviço Bolivariano de Inteligência e considerada uma das piores prisões do país.   Há cinco dias, funcionários da Direção-geral de Contrainteligência Militar revistaram a casa da jurista, de onde levaram vinte mapas da Venezuela. Segundo o procurador, esses mapas seriam utilizados nas ações dos supostos conspiradores do plano “Bracelete Branco”. A prisão de San Miguel gerou fortes críticas da comunidade internacional. https://www.rfi.fr/br/américas/20240213-venezuela-washington-diz-que-acompanha-caso-de-ativista-presa-advogado-denuncia-prisão-arbitrária Ativistas de Diretos Humanos pedem a instâncias internacionais medidas para a libertação da advogada, especialista em temas militares. Na manhã desta terça-feira haverá um protesto em frente à Embaixada da Espanha em Caracas para pedir a libertação de Rocío, que além de venezuelana também tem nacionalidade espanhola.

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Feb 20, 2024
Viagem de Lula à África reposiciona Brasil no continente, mas se encerra com crise com Israel

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou neste domingo (18) uma viagem de seis dias ao continente africano, durante a qual evidenciou a disponibilidade do Brasil de ampliar as parcerias e a cooperação com os países da África em diversas áreas. Mas pouco antes de partir, os comentários de Lula sobre a atuação de Israel em Gaza desencadearam uma crise com o governo israelense. Os comentários ocorreram durante a coletiva de imprensa que o presidente concedeu a jornalistas https://www.rfi.fr/br/brasil/20240218-lula-critica-falta-de-humanidade-de-países-com-palestinos-e-compara-guerra-em-gaza-ao-holocaustopouco antes de sair da Etiópia e retornar ao Brasil. Questionado sobre a decisão do governo brasileiro de anunciar a entrega de uma nova ajuda para agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA), suspeita de envolvimento entre funcionários da entidade e o grupo Hamas, Lula voltou a criticar a decisão de países ocidentais de suspenderem os aportes. “Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar a contribuição para a questão humanitária aos palestinos, eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente e qual é o tamanho do coração solidário dessa gente, que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio”, argumentou. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existe em nenhum momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler decidiu matar os judeus”, disse. A declaração enfureceu o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu https://www.rfi.fr/br/mundo/20240218-netanyahu-reage-à-fala-de-lula-e-diz-que-comparar-israel-ao-holocausto-e-a-hitler-é-cruzar-linha-vermelha, que horas depois declarou pelo X que os comentários eram “vergonhosos e graves”. O premiê também informou que convocaria o embaixador brasileiro em Tel Aviv para “uma conversa severa”, uma decisão que o ministro das Relações Exteriores do pais, Israel Katz, já havia antecipado também pelo X. No meio diplomático, a medida significa que o embaixador Frederico Meyer deve ser chamado para dar explicações sobre o posicionamento do presidente Lula. DISCURSO MODERADO NA PLENÁRIA DA CÚPULA AFRICANA Um dia antes, na abertura da 37ª Cúpula da União Africana, Lula havia optado por um discurso relativamente moderado sobre o assunto na plenária do evento https://www.rfi.fr/br/áfrica/20240217-lula-opta-por-discurso-moderado-sobre-a-guerra-em-gaza-na-cúpula-da-união-africana, em meio a uma série de ataques diretos a Israel por lideranças africanas e outros convidados, como o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit. Lula primeiro ressaltou que o Brasil condenava os ataques realizados pelo Hamas em 7 de outubro – o que, naquele contexto, significou uma ruptura na narrativa levada à plenária. Depois “rechaçou a resposta desproporcional de Israel”, mas sem se prolongar no tema, ao contrário dos demais oradores.   O incidente diplomático com Israel coroa uma viagem que já estava marcada por vários percalços, como cancelamentos de reuniões e eventos. Na etapa do Egito, os planos correram como previsto, mas ao chegar na Etiópia, a delegação brasileira parece ter sido surpreendida pelos diversos revezes na programação. Oficialmente, os cancelamentos de reuniões bilaterais que o presidente teria, à margem da cúpula africana, aconteceram devido a problemas como o trânsito caótico no primeiro dia do evento, que teria deixado muitos dirigentes trancados no caminho, ou a realização de reuniões imprevistas, que diziam respeito a questões internas da própria África. Assim, uma reunião extraordinária convocada por Angola para debater o aumento da violência no leste da República Democrática do Congo resultou no esvaziamento generalizado de um evento da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) sobre financiamento climático, no qual Lula deveria discursar. No sábado, essa situação se prolongou, de modo que o presidente decidiu até cancelar a presença no almoço e no jantar oficial da cúpula.   ‘DIPLOMACIA PRESIDENCIAL’ ABRE CAMINHO PARA RETOMADA DE PARCERIAS Apesar dos percalços, o presidente demonstrou satisfação com a viagem, que ele classificou como “uma das mais importantes que já fez e ainda fará". Ao voltar ao Planalto para um terceiro mandato, Lula deixou claro que redirecionaria a diplomacia brasileira para o Sul global, do qual ele aspira ser um dos líderes. A realização de uma segunda viagem à África em apenas seis meses demonstra que o Brasil quer concretizar essa reaproximação, por meio do aumento de cooperação em áreas como agricultura, energia e educação, inclusive com o plano de retomada de investimentos e financiamentos de projetos de desenvolvimento. “Um oceano não é um obstáculo, ele é uma dádiva de Deus para a nossa aproximação. (...) O Brasil não tem no mundo a força que eu gostaria que tivesse, mas tudo, muito ou pouco, que o Brasil tem eu quero compartilhar com o continente africano, porque nós temos uma dívida histórica de 300 anos de escravidão e a única forma de pagar é com solidariedade e com muito amor”, disse, na plenária da cúpula africana.  Mas, em termos de anúncios concretos sobre como implementar essa reaproximação, a viagem teve resultados vagos. “A África passou a ser o sonho de consumo de muitas nações, que viram as oportunidades que um continente do tamanho do africano tem”, salientou João Bosco Monte, presidente do Instituto Brasil África, citando o exemplo de países como China, Índia e Turquia. “Não ter empresários em uma reunião que é eminentemente política não é um grande pecado. O pecado é não aproveitar a oportunidade que nós temos para dizer qual será a próxima iniciativa, o próximo movimento. Isso vai ser um esforço coletivo”, explicou Monte, que acompanhou a cúpula em Adis Abeba. “Eu costumo dizer que a diplomacia presidencial é importante e Lula sabe fazer isso muito bem e os empresários vão a reboque disso.”

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Feb 18, 2024
Guerra na Ucrânia e conflito em Gaza são temas em destaque na Conferência de Segurança de Munique

Nesta sexta-feira começa a Conferência de Segurança de Munique, um dos mais importantes fóruns internacionais sobre política e segurança no mundo, realizado até domingo em Munique, no sul da Alemanha. Nesta 60ª edição, as discussões devem ficar centradas na guerra da Ucrânia e no conflito em Gaza. Mas um personagem que não comparecerá deve dominar os debates, que é o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O ex-presidente americano ameaçou há poucos dias, caso seja eleito, não proteger contra a Rússia os países da Otan que devem dinheiro à aliança militar ocidental. Isso causa preocupação na Europa e deve ser um dos temas mais discutidos na edição de 2024 da Conferência de Segurança de Munique. Por isso, uma questão a ser debatida em Munique a partir desta sexta-feira (16/02) será como os europeus podem se tornar mais independentes de seu grande aliado do outro lado do Atlântico em termos de política de segurança. Depois das ameaças de Trump, os europeus começam a pensar em, por exemplo, terem seu próprio escudo antiatômico, com um arsenal nuclear próprio, para não terem que depender dos Estados Unidos no caso de um ataque russo ao continente. Só França e Reino Unido têm armas nucleares no continente, sendo que o Reino Unido não faz mais parte da União Europeia. Por isso, o presidente francês, Emmanuel Macron lançou, por exemplo, a ideia de se disponibilizar o arsenal atômico francês para ser uma espécie de escudo dissuasivo na União Europeia contra ameaças de Moscou. Essa deverá ser uma das ideias a serem discutidas na agenda da conferência. Outros temas, além da Ucrânia e da guerra em Gaza, devem ser também a crise no Oriente Médio, a China e a tensão com Taiwan e segurança cibernética. GUTERRES, ZELENSKY, KAMALA HARRIS Cerca de 50 chefes de Estado e de governo estarão entre os cerca de 800 participantes do evento em Munique, além de vários ministros de Estado. A abertura do encontro, nesta sexta, fica a cargo do secretário-geral da ONU, António Guterres. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, vai estar presente pela primeira vez do evento desde o início da invasão russa, depois de ano passado ter participado por videoconferência. Ele vai discursar neste sábado, num momento em que a aliança de apoio a Kiev ameaça ficar enfraquecida face às dificuldades de aprovação de um novo pacote de ajuda de 60 bilhões de dólares dos Estados Unidos pelo Congresso americano. A Ucrânia precisa urgentemente de mais munições e armas. E esse certamente será um tema de uma conversa bilateral que Zelensky terá com outra personalidade importante presente em Munique, que é a vice-presidente americana, Kamala  Harris. A delegação americana também conta com o secretário de Estado americano, Antony Blinken. Além disso, comparecem a Munique mais de 30 congressistas americanos, tanto republicanos como democratas. O chanceler alemão, Olaf Scholz, faz um discurso neste sábado. Ele é acompanhado no evento por diversos ministros de Estado alemães. O presidente francês, Emmanuel Macron, e o premiê polonês Donald Tusk também devem comparecer. O presidente de Israel, Isaac Herzog, acompanhado do ministro do Exterior do país, Israel Katz, participam do encontro. Também confirmou presença o premiê palestinense, Mohammed Shtayyeh. A situação dramática no sul da Faixa de Gaza e a busca de uma solução para o conflito devem ser tematizadas na conferência. RÚSSIA E IRÃ NÃO FORAM CONVIDADOS NESTE ANO, COMO EM 2023, NÃO FORAM CONVIDADOS REPRESENTANTES DO GOVERNO DA RÚSSIA. O MINISTRO DO EXTERIOR RUSSO, SERGUEI LAVROV, POR EXEMPLO, JÁ VEIO DIVERSAS VEZES A ESSE ENCONTRO; O PRESIDENTE RUSSO VLADIMIR PUTIN TAMBÉM JÁ PARTICIPOU DO EVENTO, MAS DESDE A INVASÃO RUSSA DA UCRÂNIA, ESSES PERSONAGENS NÃO SÃO MAIS BEM-VINDOS À CONFERÊNCIA DE SEGURANÇA DE MUNIQUE. Esse é o caso também da liderança iraniana. Também não estão entre os convidados representantes do partido alemão de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que atualmente é alvo de uma série de protestos no país depois da revelação de que membros da legenda participaram de uma reunião sigilosa onde foi discutida a expulsão em massa de migrantes da Alemanha.

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Feb 16, 2024
Ministros da Defesa da Otan se reúnem em meio a anúncio recorde de gastos militares

Em meio às recentes declarações do ex-presidente americano Donald Trump, que ameaçou não defender países inadimplentes com gastos de defesa da Otan caso seja eleito, a aliança militar do Atlântico Norte reúne seus ministros da Defesa e anuncia um recorde de gastos militares para este ano. LETÍCIA FONSECA-SOURANDER, O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, acusou o ex-presidente americano Donald Trump https://www.rfi.fr/br/tag/donald-trump/ de estar minando a credibilidade da aliança militar e anunciou que os aliados europeus irão investir US$ 380 bilhões em defesa este ano, “uma cifra recorde e seis vezes maior do que em 2014”, ressaltou. Em resposta às provocações de Trump, ele afirmou que 18 dos 31 países que integram a organização devem gastar mais do que os 2% do Produto Interno Bruto (PIB https://www.rfi.fr/br/tag/pib/) em defesa. Em menos de uma semana, esta foi a segunda repreensão de Stoltenberg ao candidato republicano das próximas eleições americanas. Há dez anos, depois que a Rússia https://www.rfi.fr/br/tag/rússia/ tomou a Criméia da Ucrânia https://www.rfi.fr/br/tag/ucrânia/, os ministros da defesa da Otan concordaram em se comprometer com pelo menos 2% do PIB de seus países em gastos militares. Esta semana, a Alemanha confirmou um valor recorde de mais de US$ 70 bilhões para as despesas militares. Do outro lado do Atlântico, Donald Trump https://www.rfi.fr/br/tag/donald-trump/ voltou a reagir dizendo que “a Otan tem de pagar suas contas”, já que, “neste momento, estão a pagar uma pequena parte” do que os EUA “pagam pelo desastre na Ucrânia”, garantindo que se o país “tivesse um verdadeiro presidente” isso “nunca” aconteceria, escreveu na rede Social Truth. Segundo Trump, “as nações europeias quando juntas, têm aproximadamente o mesmo tamanho da economia dos EUA. Eles têm o dinheiro. Paguem!”, concluiu. FUTURO DA SEGURANÇA NA EUROPA Donald Trump https://www.rfi.fr/br/tag/donald-trump/ não é o único, entre os ex-presidentes dos EUA, a ter problemas com os parceiros europeus por causa do não pagamento de suas contribuições para a Otan. Porém, a maneira agressiva e nada diplomática de Trump ao abordar questões importantes faz com que o alarme seja sempre acionado. O que fez a declaração do último sábado se tornar explosiva foi Trump dizer que, caso seja eleito, vai encorajar a Rússia https://www.rfi.fr/br/tag/rússia/ a atacar países da aliança militar. Além da bomba que soltou, o ex-presidente americano colocou em questão a ativação do artigo nº 5 da Otan, que prevê a defesa mútua em caso de ataque a um de seus países membros. O comentário de Trump assusta e escancara o quão perigoso é o atual contexto geopolítico. O risco da estabilidade europeia enfraquecer aumenta dia a dia. Se tornou arriscado demais contar com os EUA? A Europa deve começar a pensar em um plano B? A França, única potência nuclear que resta na União Europeia https://www.rfi.fr/br/tag/união-europeia/, tem defendido a soberania europeia em matéria de segurança e defesa. O presidente francês, Emmanuel Macron https://www.rfi.fr/br/tag/emmanuel-macron/, advoga há anos por uma “autonomia estratégica” da Europa para diminuir a dependência militar dos EUA, mas sem romper com a Otan. Talvez as polêmicas declarações de Trump estimulem a volta sobre este debate no continente. QUANTO MAIS PERTO DA RÚSSIA, MAIS GASTOS MILITARES Em Bruxelas https://www.rfi.fr/br/tag/bruxelas/, os ministros da defesa da Otan devem discutir os preparativos para a próxima cúpula da aliança militar em Washington https://www.rfi.fr/br/tag/washington/, no mês de julho. Outros destaques da agenda serão o debate sobre o progresso no aumento e aceleração da produção de munições e a questão do financiamento dos novos planos de defesa da Otan. Um dos projetos nesta área é o , que começou no mês passado, e é o maior exercício militar da aliança desde a Guerra Fria https://www.rfi.fr/br/tag/guerra-fria/, que vai mobilizar 90 mil soldados dos 31 países da organização e da Suécia. Em 2023, os EUA e os países que fazem fronteira com a Rússia gastaram a maior proporção de seus rendimentos nacionais em Defesa https://www.rfi.fr/br/tag/defesa/. Como por exemplo a Polônia cujos gastos com defesa passou de 1.9% do PIB em 2014 para 3.9% do PIB no ano passado por causa da guerra na Ucrânia. Há uma tendência clara nos orçamentos dos aliados da Otan: quanto mais próximos da Rússia, maiores os gastos militares.

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Feb 15, 2024
Tribunal determina que Holanda pare de fornecer a Israel peças de caças usados em Gaza

A Holanda tem que suspender até domingo (18) o fornecimento de peças para a manutenção dos aviões de guerra F-35 utilizados, na Faixa de Gaza, por Israel na guerra contra o grupo armado Hamas, segundo sentença do Tribunal de Recursos da região de Haia.  A Corte Suprema de Haia determinou a suspensão do fornecimento de peças para o avião de combate F-35 de Israel, atendendo a um pedido de organizações civis, a saber Oxfam Novib, PAX e The Rights Forum. No veredito, o juiz relator escreveu que: “existe um claro risco de que graves violações do direito humanitário de guerra sejam cometidas, por Israel, na Faixa de Gaza usando esse tipo de avião de combate F-35”. Na sua decisão, o Tribunal de Recursos rejeita a argumentação do tribunal de primeira instância. Segundo o tribunal, foi estabelecido que Israel não leva suficientemente em conta as consequências para a população civil quando ataca alvos na Faixa de Gaza com os F-35. Os ataques “resultaram num número desproporcional de vítimas civis, incluindo milhares de crianças”. A conclusão do juiz de apelação é considerada uma grande vitória para a ordem jurídica internacional e para este grupo de organizações civis (Ongs nacionais e internacionais baseadas na Holanda) -  que entraram com ação judicial, em novembro de 2023, exigindo que a Holanda parasse de abastecer Israel com peças substitutas ou de reserva a peças e acessórios destinados a este modelo de avião de guerra. PEÇAS PARA AVIÃO DE COMBATE Os chamados componentes que estão no centro da proibição de exportacão são peças norte-americanas do avião de combate, que estão armazenadas em um centro logístico na base aérea da cidade de Woensdrecht. Não se sabe exatamente quais partes estão envolvidas. “Poderiam ser sistemas de orientação de mísseis, mas também o assento do piloto, por exemplo”, diz o jornalista Rik Konijnenbelt que acompanha a questão. Konijnenbelt acrescenta que em 2016 o gabinete da ocasião expandiu a exportação geral dos componentes deste modelo de avião militar, incluindo países como Israel. ATIVISMO DE ONGS As organizações civis ativistas Oxfam Novib, Pax e The Rights Forum perderam a ação em primeira instância, em dezembro passado, mas recorreram, em 22 de janeiro deste ano, e o resultado da apelação publicado em 12 de fevereiro deu ganho de causa a todos os argumentos apresentados na apelação. O diretor ds Oxfam Novib, Michiel Servaes, critica e considera cinismo a atitude do governo holandês que “envia para a região o modelo de avião C-130 transportando medicamentos e outros mantimentos para a população civil palestina e de outro centro de distribuição, na Holanda, abastece Israel com acessórios para a manutenção e conserto de uma aeronave bélica, que é o F-35 e que chega para destruir mais casas e famílias”. Essa é uma versão que ninguém mais compra, nas palavras de Servaes. O diretor da The Rights Forum, Gerard Jonkman, chama a decisão de “devastadora para o Estado” e “uma vitória para a ordem jurídica internacional”. E ironiza: “O juiz fez picadinho dos argumentos do Estado. É o que se chama ‘segunda-feira de dia de carne picada’ tradição cultural, em Haia. O significado da decisão é grande, segundo Jonkman: “os direitos humanos e a ordem jurídica internacional não devem estar subordinados à relação com Israel e os EUA e aos interesses econômicos”. CONSEQUÊNCIAS DESASTROSAS As peças dos aviões-caça são utilizadas por Israel nos bombardeios de Gaza. Nas imagens mostradas na mídia, o uso deste avião de combate não esconde a destruição que está sendo perpetrada em território palestino.  A decisão do tribunal de apelação surge duas semanas depois da Corte Internacional de Justiça (CIJ) ter concluído que é “possível” que Israel esteja cometendo genocídio em Gaza. A CIJ também impôs medidas vinculativas a Israel, que a Holanda diz endossar. Depois do terrível ataque de 7 de outubro de 2023, em Israel, no qual mais de 1.200 pessoas foram mortas e centenas sequestradas, mais de 28.000 pessoas já foram mortas nos ataques israelenses a Gaza, a maioria delas, mulheres e crianças. Muitas pessoas ainda estão desaparecidas e provavelmente soterradas sob os escombros, enquanto mais de 67 mil ficaram feridas. Estas cifras colocam o número diário de vítimas muito acima do de todas as outras guerras. “Os números de vítimas são pouco compreensíveis”, afirma Michiel Servaes: “Quase um em cada vinte habitantes de Gaza já foi morto ou ferido. Traduzido para proporções holandesas, isto equivaleria a cerca de 750.000 vítimas. A forma como aqueles que conseguirem ultrapassar esta guerra horrível reconstruirão as suas vidas é também uma grande preocupação. Mais de 50% de todos os prédios estão agora em ruínas e a decisão de suspender as doações à UNRWA (a agência da ONU dedicada ao povo palestino na Faixa de Gaza) https://www.rfi.fr/br/mundo/20240130-se-a-unrwa-desaparecer-os-palestinos-perdem-um-dos-principais-símbolos-do-seu-reconhecimentorepresenta um enorme risco. Não devemos nos esquecer que este desastre é 100% provocado pelo homem. Nós lemos, vemos, sabemos disso”, pontua o diretor da Oxfam Novib. POSIÇÃO DO GOVERNO MANTIDA PELOS INTERESSES O ministério de Comércio Exterior não vai deixar por menos e vai recorrer da sentença, como declarou o ministro demissionário Geoffrey van Leeuwen. O governo holandês não considera ilegal o fornecimento de peças do F-35 a Israel, mas por enquanto vai cumprir a decisão do Tribunal de apelação. O argumento do ministério de Comércio Exterior que foi acatado em dezembro passado foi que a suspensão de fornecimento de peças e componentes a este modelo de aviões militares iria prejudicar muito a relação com Israel, com os Estados Unidos e trazer graves dificuldades financeiras para a Holanda. Na ocasião, a vice-ministra para o Comércio Externo e Cooperação para o Desenvolvimento (VVD), Liesje Schreinemacher, teria decidido corretamente que a licença de exportação poderia ser mantida, apesar das advertências dos advogados do seu ministério de que o uso dos F-35 de fato “possivelmente cometem graves violações do direito humanitário da guerra”. No dia 15 de dezembro de 2023, o juiz rejeitou a reclamação das organizações civis. De acordo com a decisão do juiz, a medida de Schreinemacher foi “de natureza altamente política e (a outra) financeira e o juiz deve deixar ao ministro um amplo grau de liberdade a este respeito”. As organizações anunciaram que iriam recorrer. A apelação foi entregue em 22 de janeiro. O veredito saiu nesta segunda-feira (12). REAÇÕES INTERNAS E NO EXTERIOR A guerra em Israel divide a opinião pública na Holanda. Já no exterior, a primeira reação sobre a decisão do tribunal de Haia sobre o F-35 veio de Josep Borrell, que é o Alto Representante da União Europeia para Relações Exteriores e Política de Segurança. Ele destacou que há um risco inequívoco – de violação humanitária - se os componentes do F-35 continuarem abastecendo com acessórios as aeronaves militares pertencentes a Israel. Seguindo a mesma linha de raciocínio que o tribunal de apelação de Haia, antes mesmo do juiz publicar sua decisão, o governo regional da Valônia, na Bélgica e o governo de Espanha anunciaram, esta semana, que iriam parar as exportações de armas para Israel devido ao alto risco de contribuir para graves violações do direito humanitário de guerra. A decisão da Tribunal de Apelação de Haia chegou no momento em que o primeiro-ministro demissionário da Holanda, Mark Rutte, estava em visita a Israel. Segundo ele, foi feito o enfático pedido para que Israel não ataque o minúsculo e quase totalmente destruído acampamento palestino de Rafah, onde já estão apinhados os moradores que fogem dos bombardeios na Faixa de Gaza. O apelo de Rutte parece que não teria feito nenhum impacto à afirmativa do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que na madrugada anterior realizou mais um ataque aéreo matando dezenas de palestinos. O saldo para a operação militar foi a libertação de dois reféns israelenses.   https://www.rfi.fr/br/mundo/20240212-israel-anuncia-resgate-de-dois-reféns-do-hamas-operação-deixa-mais-de-cem-mortos

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Feb 14, 2024
Lula viaja ao continente africano em seu primeiro giro internacional de 2024

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca na manhã de quarta-feira (14) no Egito para uma visita de dois dias. A agenda deve ser mais leve e inclui, caso não haja alguma mudança, uma visita às pirâmides de Gizé, as mais próximas do Cairo. Uma atividade cultural talvez seja incluída, mas na parte da tarde. A ideia é que Lula descanse depois de uma longa viagem e se prepare para os próximos dias, que prometem ser intensos, em reuniões com a Liga Árabe. VINÍCIUS ASSIS, Os principais compromissos de Lula https://www.rfi.fr/br/tag/lula/ nesta viagem ao Egito https://www.rfi.fr/br/tag/egito/ ficam para a quinta-feira (15). O presidente tem um encontro com o colega egípcio, Abdel Fattah Al-Sisi, e depois deve visitar a sede da Liga Árabe https://www.rfi.fr/br/tag/liga-árabe/, organização formada por cerca de 20 países árabes que ficam no norte do continente africano e no Oriente Médio https://www.rfi.fr/br/tag/oriente-médio/. É a segunda visita do presidente Lula ao país. A primeira viagem foi em 2003, em seu primeiro mandato. O Egito é um dos maiores importadores de produtos brasileiros em toda a África, e considerado pelo governo um parceiro-chave do Brasil no continente e também no mundo árabe. Mas esta é uma viagem principalmente com objetivos políticos. O conflito na Faixa de Gaza https://www.rfi.fr/br/tag/faixa-de-gaza/, sem dúvida, estará na pauta de assuntos a serem tratados pelos presidentes Lula e Sisi. O governo egípcio, assim como o do Qatar https://www.rfi.fr/br/tag/qatar/, tem desempenhado um papel de mediador na tentativa de se chegar ao fim deste conflito entre Israel https://www.rfi.fr/br/tag/israel/ e o Hamas https://www.rfi.fr/br/tag/hamas/, que já matou quase 30 mil pessoas. FRONTEIRA DO EGITO COM GAZA Pela fronteira do Egito com Gaza, o Brasil conseguiu resgatar nos últimos meses mais de 100 brasileiros e familiares palestinos que estavam na zona sob forte ataque israelense desde outubro. O último resgate foi de uma mãe e seus três filhos, na semana passada. A mais nova das crianças nasceu na véspera do Natal, e, por este motivo, a família não havia sido resgatada ainda. Eles são palestinos com nacionalidade brasileira. EGITO DISTRIBUIDOR DE PRODUTOS BRASILEIROS Os ataques do grupo Houthis, do Iêmen https://www.rfi.fr/br/tag/iêmen/, a navios que passam pelo Mar Vermelho https://www.rfi.fr/br/tag/mar-vermelho/, ainda preocupam o Egito https://www.rfi.fr/br/tag/egito/, inclusive pelo impacto na circulação de embarcações pelo canal do Suez. O grupo iemenita é apoiado pelo Irã https://www.rfi.fr/br/tag/irã/ e diz que continuará a atacar navios de aliados de Israel até o fim dos conflitos na Faixa de Gaza https://www.rfi.fr/br/tag/faixa-de-gaza/. Com isso, o governo egípcio quer aumentar o comércio marítimo pelo Mar Mediterrâneo https://www.rfi.fr/br/tag/mar-mediterrâneo/, inclusive com o Brasil. A ideia é que o Egito https://www.rfi.fr/br/tag/egito/ seja uma espécie de distribuidor de produtos brasileiros para países africanos sem acesso ao mar e também para o Oriente Médio https://www.rfi.fr/br/tag/oriente-médio/, e ainda se espera que os dois presidentes discutam o início de voos diretos entre o Brasil https://www.rfi.fr/br/tag/brasil/ e o Egito. 100 ANOS DE RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS Lula não será o único governante estrangeiro no Cairo https://www.rfi.fr/br/tag/cairo/ esta semana. Na quarta, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan https://www.rfi.fr/br/tag/recep-tayyip-erdogan/, visitará o Egito pela primeira vez desde 2012. Apesar dos fortes laços históricos, religiosos e culturais, as relações entre Egito e Turquia https://www.rfi.fr/br/tag/turquia/ foram alvo de uma crise diplomática que levou o governo egípcio a expulsar o embaixador turco do seu território. No ano passado os dois governos melhoraram as relações ao voltar a nomear embaixadores. A propósito, este ano o Brasil e o Egito comemoram 100 anos de relações diplomáticas. Assim como a Etiópia, o Egito agora também faz parte do Brics https://www.rfi.fr/br/tag/brics/. Os dois países foram convidados para entrar para o bloco no ano passado durante a cúpula na África do Sul https://www.rfi.fr/br/tag/áfrica-do-sul/, que também integra o grupo, até então, de países chamados emergentes. DISCURSO NA CÚPULA DA UNIÃO AFRICANA Na quarta-feira à noite, Lula deve embarcar para a Etiópia https://www.rfi.fr/br/tag/etiópia/, onde estão agendadas reuniões bilaterais, compromissos que começam já na quinta-feira de manhã. Mas o principal compromisso dele a participação na cúpula da União Africana https://www.rfi.fr/br/tag/união-africana/, onde fará um discurso. A sede da organização fica na capital etíope, Adis Abeba. Lula deve reforçar sua preocupação com a insegurança alimentar. Assim como a União Europeia https://www.rfi.fr/br/tag/união-europeia/, a União Africana https://www.rfi.fr/br/tag/união-africana/ agora faz parte do G20 https://www.rfi.fr/br/tag/g20/, grupo formado ainda por representantes das 19 maiores economias do mundo e que atualmente é presidido pelo Brasil.

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Feb 13, 2024